A Boa Safra (SOJA3), líder na produção de sementes do Brasil, obteve lucro líquido de R$ 67,8 milhões no terceiro trimestre deste ano, que corresponde a um crescimento de 26% na comparação anual, segundo balanço divulgado na noite desta terça-feira (11).
A receita líquida da empresa também surpreendeu ao atingir R$ 1,1 bilhão, que representa alta de 56% na comparação anual, refletindo o avanço das entregas de sementes de soja, principal produto da empresa.
As margens, no entanto, recuaram diante do cenário de juros elevados e da volatilidade das commodities no período.
Às 13h30 (horário de Brasília) desta quarta-feira (12), os papéis SOJA3 caíam 14,35%, negociadas a R$ 9,73 na B3.
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“Crescemos 56% em faturamento e 26% em resultado. Os principais detratores foram juros mais altos e margens mais apertadas, além da variação dos preços das commodities”, afirmou o CEO da Boa Safra, Marino Colpo.
Colpo ressalta que o faturamento poderia ter sido ainda maior se a empresa não tivesse descartado parte das sementes para manter o padrão de qualidade acima de 90%.
Juros altos pressionam resultado da Boa Safra
As despesas financeiras da Boa Safra subiram de R$ 24 milhões para R$ 36 milhões no trimestre, devido ao custo maior do crédito e ao impacto dos juros altos sobre as operações.
“Vendemos mais e crescemos, mas o lucro ficou abaixo do que gostaríamos. Ainda assim, mantivemos resultado positivo enquanto várias empresas do agro tiveram prejuízos”, afirmou o CEO.
O diretor-financeiro e de Relações com Investidores, Felipe Marques, corrobora que o cenário de juros foi o principal fator limitante para a expansão do lucro líquido: “Tivemos um impacto financeiro relevante, mas acreditamos que o pico já passou. Fizemos duas grandes captações via CRA em taxas prefixadas e depois aplicamos swap para porcentual do CDI, o que deve nos beneficiar com a queda da Selic”.
Ebitda cresce 54%, mas margens se mantêm
O Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) somou R$ 113,6 milhões no terceiro trimestre, aumento de 54% sobre o mesmo período de 2024. Já a margem Ebitda ajustada permaneceu estável em 10%.
A empresa destacou que o terceiro trimestre é “historicamente um dos de maior intensidade comercial”, devido à dinâmica do ciclo da soja e à sazonalidade do setor agrícola.
Boa Safra prevê recorde com aumento da carteira de pedidos
A carteira de pedidos da Boa Safra totalizou R$ 861 milhões no terceiro trimestre de 2025, avanço de 18% sobre o mesmo trimestre do ano anterior.
Os pedidos de sementes de soja chegaram a R$ 760 milhões, representando alta de 9%, enquanto os pedidos de outras culturas — incluindo trigo, milho, forrageiras, feijão e sorgo — cresceram 206%, totalizando R$ 101 milhões.
A companhia destacou que o quarto trimestre deve ser ainda mais forte, com a carteira de pedidos atingindo R$ 862 milhões, o maior volume já registrado para o período. Desse total, R$ 761 milhões correspondem a sementes de soja (+18%) e R$ 101 milhões a outras culturas (+206%).
“É uma carteira muito firme, concentrada nas regiões Norte e Nordeste, que ainda não plantaram. Tudo indica um quarto trimestre mais forte que o do ano passado”, afirmou Colpo.
Logística e produção também impactam margens
Segundo Marques, o trimestre foi marcado pela maior intensidade comercial, com parte das entregas antecipadas para o terceiro trimestre, em razão da antecipação do plantio.
“Começamos forte, as chuvas em Mato Grosso interromperam e parte do faturamento ficou para o quarto trimestre”, disse o executivo.
Ele também apontou que as margens foram pressionadas pelo aumento de cerca de 40% no volume produzido e pelos custos logísticos: “Fizemos mais operações CIF, e isso reduz a margem quando você olha no final do dia”.
Estrutura de capital e liquidez fortalecidas
A Boa Safra encerrou o terceiro trimestre com R$ 1,2 bilhão em caixa e aplicações financeiras, impulsionada pelas duas emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) realizadas em 2025, que totalizaram R$ 1 bilhão.
“Temos 95% da dívida no longo prazo e posição de alta liquidez. A estrutura de capital está sólida e pronta para sustentar o crescimento nos próximos trimestres”, afirmou Marques.
A empresa segue como líder nacional na produção de sementes de soja, com foco em ampliar participação nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, mantendo padrão de qualidade superior a 90%, patamar considerado estratégico para diferenciação no setor.
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Ações da Boa Safra devem cair na próxima sessão, aponta XP
A XP Investimentos avaliou que os resultados da Boa Safra vieram melhores em relação ao ano anterior, refletindo uma base de comparação mais fraca. Apesar disso, os lucros ficaram abaixo das projeções da casa, o que deve levar a revisões negativas tanto nas estimativas de receita quanto de margem.
Segundo a corretora, esse cenário tende a se traduzir em uma performance negativa das ações na próxima sessão.
Na análise detalhada da demonstração dos resultados (DRE), a XP destacou que a margem EBITDA ficou em 8,3%, considerada fraca (503 pontos-base abaixo das suas estimativas e 192 pontos-base menor na comparação anual) mesmo com o aumento das vendas de sementes de soja. Segundo a corretora, esse movimento também pode pressionar os lucros.
A XP também chamou atenção para o consumo de caixa de R$ 142 milhões no trimestre, pior que o esperado, influenciado por maiores necessidades de capital de giro, especialmente em contas a receber, com prazos de pagamento mais longos, e por adiantamentos a fornecedores.









