Marcos de Vasconcellos blog

Ligando os pontos

Textos de Marcos de Vasconcellos, jornalista, CEO do Monitor do Mercado, colunista da Folha de S.Paulo e assessor de investimentos.

China e Rússia usam crise para engatilhar uma Nova Ordem Mundial

Com a alta histórica do petróleo, a China caminha para não mais pagar por ele em dólares. Querem negociar em yuan (a moeda local). Alvo das sanções econômicas do Ocidente desde que invadiu a Ucrânia, a Rússia seguiu pelo mesmo caminho. Querem receber e pagar em rublos e estudam até mesmo operar em bitcoin.

icone de relogio 28/03/2022 08:58

Por Marcos de Vasconcellos*

A guerra na Europa e o desencadear da pandemia de Covid-19 são o bastante para que as referências ao ano de 2022 ocupem algumas páginas nos livros de história no futuro próximo. Algumas linhas terão de ser dedicadas ao engatilhar de uma Nova Ordem Mundial financeira, pela China e pela Rússia.

Antes que isso vire história, é bom estar atento e se preparar para uma tremenda mudança no cenário econômico.

Com a alta histórica do petróleo, a China caminha para não mais pagar por ele em dólares. Querem negociar em yuan (a moeda local). Alvo das sanções econômicas do Ocidente desde que invadiu a Ucrânia, a Rússia seguiu pelo mesmo caminho. Querem receber e pagar em rublos e estudam até mesmo operar em bitcoin.

A cronologia torna tudo mais interessante. Vamos refrescar a memória: Em janeiro de 2020, as autoridades chinesas identificaram um novo tipo de coronavírus, afetando humanos, com alto índice de transmissão e letalidade.

Fronteiras foram bloqueadas, lockdowns foram decretados, e, para tentar aquecer a economia, o banco central dos Estados Unidos acionou suas impressoras e despejou dólares e mais dólares no mercado.

O volume de impressões foi tamanho, que, em dezembro de 2021, 80% dos dólares existentes haviam sido impressos nos 22 meses anteriores.

A inundação de dinheiro americano cobrou o seu preço, com uma inflação descontrolada atingindo os mais diferentes mercados. Os EUA e outras economias, como o Brasil, aumentaram taxas de juros, de forma a tentar drenar o fluxo de dinheiro, e passaram a competir com o setor privado pelo crédito.

Em janeiro de 2022, quando a inflação sinalizava arrefecer, a Rússia invadiu a Ucrânia, gerando uma crise de abastecimento de petróleo, fertilizantes, trigo e outros insumos essenciais para a economia global.

A nova onda de inflação atingiu em cheio as economias emergentes, como nós, com as perspectivas de falta de insumos. E não há aumento de taxa de juros que corrija isso.

Justamente nesse momento, em que o mundo tenta digerir o enorme fluxo de dólares e, ao mesmo tempo, sofre com a falta de insumos, a China e a Rússia caminham para vender petróleo sem a moeda americana.

A Arábia Saudita, terceiro maior exportador de petróleo (levando em conta o bruto e o refinado) do mundo, está em "intensas negociações" com Pequim para fixar o preço de parte de suas vendas em yuans, noticiou a Dow Jones.

Uma semana depois dessa notícia, Vladimir Putin anunciou que a Rússia deixará de aceitar pagamentos em dólares ou euros pelo fornecimento de petróleo e gás à União Europeia e aos Estados Unidos.

Só em 2020, a Rússia exportou US$ 122 bilhões (R$ 579,73 bilhões) em petróleo (bruto e refinado) e a China, US$ 24,3 bilhões (R$ 115,47 bilhões). Somados, dão o PIB de uma Hungria, ou de meio Chile.

Vale notar que o mais duro golpe contra a dolarização da economia veio justamente do país onde teve início a pandemia e daquele que deu o pontapé inicial na guerra da Ucrânia.

O estrategista do Credit Suisse Zoltan Pozsar, que já foi executivo do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) já afirmou que a crise das commodities desencadeada pela guerra e pela pandemia estava dando origem à Nova Ordem monetária Mundial, que vai enfraquecer o sistema baseado em dólar.

Saímos do "padrão ouro" para o "padrão dólar" e, agora, caminhamos para o "padrão commodity".

Como, principalmente após os anos 1970, passamos a "dolarizar" a nossa economia, todo golpe no dólar é sentido na precificação de tudo, ou quase tudo, no Brasil. Assim como dolarizar os investimentos é bom para fugir das altas da moeda dos EUA, explorar novos mercados deverá ser o passo essencial do investidor antenado na economia global.

Estudar o comportamento do mercado de BDRs (papéis que representam ações de outros países) e commodities é um bom começo.

Marcos de Vasconcellos é jornalista, assessor de investimentos e CEO do Monitor do Mercado

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