Marcos de Vasconcellos blog

Ligando os pontos

Textos de Marcos de Vasconcellos, jornalista, CEO do Monitor do Mercado, colunista da Folha de S.Paulo e assessor de investimentos.

Empresas de saúde redesenham o mercado na pandemia, com negócios bilionários

Quantidade de balões de oxigênio disponíveis, vagas em UTI, números de leitos... Os hospitais brasileiros passam por um verdadeiro Raio-X público desde o início da pandemia de coronavírus.

icone de relogio 25/02/2022 08:51

Quantidade de balões de oxigênio disponíveis, vagas em UTI, números de leitos... Os hospitais brasileiros passam por um verdadeiro Raio-X público desde o início da pandemia de coronavírus.

Quando o noticiário expôs esses números para que a população entenda os possíveis impactos das ondas de Covid-19 e o Poder Público tome as medidas cabíveis, acabou permitindo também que concorrentes e possíveis compradores mapeassem o setor da saúde, em busca de oportunidades.

E não foram poucos, nem pequenos, os negócios originados na área nos últimos dois anos. O movimento de fusões e aquisições tem aumentado a consolidação do setor, ou seja: grandes players comprando os menores ou se fundido com outros tubarões, aumentando a concentração do mercado.

Nesta quarta-feira (24), a Rede D’Or anunciou a compra da gigante dos planos de saúde SulAmérica, em uma “negociação relâmpago”. O valor total do negócio ainda não foi divulgado, mas é um forte candidato a maior do ano (e ainda nem chegou o Carnaval).

Em valor de mercado, as companhias somam quase R$ 120 bilhões. São R$ 102,2 bilhões da Rede D’Or e R$ 15,2 bilhões da Sul América, levando em conta a cotação de suas ações nesta quinta-feira.

Aliás, a maior transação de fusões e aquisições (chamadas pela sigla M&A) do ano passado foi justamente de empresas da Saúde: quando a Notre Dame Intermédica se fundiu à Hapvida, ambas operadoras de planos de saúde. À época do anúncio, as empresas somavam também cerca de R$ 120 bi em valor de mercado.

Engana-se quem acredita que isso se resume aos negócios bilionários do andar de cima. Em 2021, o Brasil teve mais de 240 transações envolvendo empresas da área da saúde, de higiene e cosméticos, de acordo com a TTR, publicação internacional especializada em M&As. 

Agora, em janeiro, a TTR elegeu como “negócio do mês” justamente a aquisição do Centro Clínico Gaúcho pela Intermédica, avaliado em R$ 1,06 bilhão.

E os negócios do “andar de baixo” estão apenas começando. Os grandes estruturadores de M&A têm dito que hospitais com mais de 120 leitos já foram comprados e, agora, é a vez dos menores se sentarem à mesa de negociação.

Com a consolidação em curso na indústria de saúde, as operadores independentes encolheram de mais de 5 milhões de beneficiários em 2015 para menos de 4,1 milhões em 2021, de acordo com analistas do BTG Pactual.

Entender o movimento de consolidação é o que traz as boas oportunidades para investidores. Nesta quinta, por exemplo, um dia após o anúncio da fusão com a rede D’Or, os papéis da SulAmérica voaram 15%. Os da Qualicorp, focada em planos para empresas, despencaram também cerca de 15%.

Na interpretação de analistas, isso acontece porque a opção da Rede D’Or pela SulAmérica mostrou aos investidores que ela estaria mais bem posicionada do que seus concorrentes.

Ainda em meio a uma pandemia, a concentração do mercado de saúde chama a atenção e deve ser levada em consideração na hora de definir seus investimentos. A movimentação de fusões e aquisições que agora chega ao andar de baixo tem o poder de redesenhar o papel dos players da área.

E vale notar que, olhando desde dezembro de 2019, as ações de operadoras de planos de saúde tiveram um desempenho abaixo do Ibovespa, principal indicador do nosso mercado. Ou seja: muitos papéis da área estão, como se diz no mercado, descontados.

Marcos de Vasconcellos é assessor de investimentos, jornalista e CEO do Monitor do Mercado.

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