Marcos de Vasconcellos blog

Ligando os pontos

Textos de Marcos de Vasconcellos, jornalista, CEO do Monitor do Mercado, colunista da Folha de S.Paulo e assessor de investimentos.

Facebook e Netflix podem anunciar estouro de superbolha do mercado

Bolhas de ações começa a deflacionar primeiro do lado mais arriscado do mercado. E empresas de tecnologia, focadas em crescimento rápido de usuários, são justamente isso.

icone de relogio 04/02/2022 10:48

Primeiro foi a Netflix. Agora, a Meta (ex-Facebook). Duas gigantes globais de tecnologia derreteram na Bolsa depois de mostrarem ao mundo os seus números de 2021.

As contas não são terríveis, quando se pensa com a cabeça de uma “pessoa física”. Muito pelo contrário. A empresa de Mark Zuckerberg lucrou US$ 39,37 bilhões no ano (R$ 208,5 bilhões, praticamente o PIB da Bolívia). Já a plataforma de vídeos mais popular do mundo demonstrou ter 221,84 milhões de assinantes (mais do que toda a população do Brasil).

Acontece que o mercado se comporta de acordo com o quanto os números correspondem às expectativas dos analistas (do próprio mercado) ou não. Por isso uma ação pode cair com a divulgação de contas excelentes ou subir com a revelação de uma dívida bilionária.

E aí fica aquela dúvida: quando os melhores alunos da sala tiram nota baixa, foram eles que não estudaram ou a escola que cobrou além do que deveria?
A expectativa do mercado era que a Netflix mantivesse seu ritmo de crescimento. Só que a companhia previu que captará “só” 2,5 milhões de clientes neste primeiro trimestre de 2022, depois de ter conseguido 8,3 milhões de novas contas nos último três meses de 2021. E foi “punida” com uma queda de 25% no preço de suas ações na Nasdaq.

No caso da Meta/Facebook, o ano terminou com praticamente o mesmo número de usuários que começou (2,91 bilhões, mais de ¼ da população mundial), mas o problema foi na redução de usuários ativos diariamente na plataforma e numa possível redução da receita neste trimestre.

A estimativa é que a empresa fature entre US$ 27 bilhões e US$ 29 bilhões até março, o que é mais ou menos US$ 2 bilhões abaixo do esperado pelo mercado. E lá se foram as ações, que perderam 25% do preço em um só dia.
As gigantes da tecnologia, chamadas pelo acrônimo Faang (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google) são um bom termômetro para entender se o mercado está com expetativas acima de realidade. Como são “pontas de lança” do setor de tecnologia, freios em seus crescimentos sinalizam para onde o mercado deve andar nos próximos meses.

E essa recente derrubada das ações pode ser o início de um movimento temido pelo mercado e alardeado pelo megainvestidor inglês Jeremy Grantham. Ele afirma que o mercado financeiro americano vive a sua terceira superbolha, que, além do mercado de ações, atinge também o mercado imobiliário e de commodities.

E faz o alerta: a bolha de ações começa a deflacionar primeiro do lado mais arriscado do mercado. E empresas de tecnologia, focadas em crescimento rápido de usuários, são justamente isso.

Como você deve saber, o mercado de ações tenta antecipar os movimentos da economia real. E confrontando ambos, podemos ver onde pode estar a discrepância em relação aos crescimentos esperados. Um otimismo exacerbado hoje costuma resultar numa dura correção amanhã.

Com a entrada da variável da pandemia, vacinações e variantes nos cálculos, no entanto, fazer previsões sobre quando começam as correções fica ainda mais difícil. Investidores da Netflix e do Facebook que o digam.

*Marcos de Vasconcellos é jornalista e assessor de investimentos. CEO do Monitor do Mercado, escreve às sextas-feiras na Folha de S.Paulo, sobre investimentos.

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