Marcos de Vasconcellos blog

Ligando os pontos

Textos de Marcos de Vasconcellos, jornalista, CEO do Monitor do Mercado, colunista da Folha de S.Paulo e assessor de investimentos.

O agro quer saber até onde o governo vai rachar a conta

Sinalização de aumento para servidores em ano eleitoral, nova troca de presidente da Petrobras em meio à alta dos combustíveis e alívio em impostos. O governo de Jair Messias Bolsonaro está colocando as fichas da economia na mesa pela reeleição. Uma carta com grande potencial no jogo ainda não foi revelada: a distribuição de dinheiro para o agronegócio.

icone de relogio 04/04/2022 10:30

Sinalização de aumento para servidores em ano eleitoral, nova troca de presidente da Petrobras em meio à alta dos combustíveis e alívio em impostos. O governo de Jair Messias Bolsonaro está colocando as fichas da economia na mesa pela reeleição. Uma carta com grande potencial no jogo ainda não foi revelada: a distribuição de dinheiro para o agronegócio.

Trata-se de um setor cuja estima é estratégica por diferentes razões. A agropecuária foi responsável por movimentar R$ 550 bilhões em exportações em 2021. Isso é praticamente 20% de tudo o que o Brasil exportou no período.

Além disso, o agronegócio é responsável pela ocupação de 18,45 milhões de pessoas — o maior contingente desde 2016, segundo dados da USP (Universidade de São Paulo). A participação do agro no mercado de trabalho brasileiro chegou a 20,21%.

Com a alta dos combustíveis e a chamada crise dos fertilizantes, o custo do agronegócio brasileiro aumentou de forma exponencial. O que está plantado ou até mesmo estocado já foi precificado. Mas a próxima safra é que preocupa o setor. E querem saber: até onde o governo vai rachar a conta?

A resposta virá no próximo Plano Safra, que só deve ser apresentado em junho. Desde 2003, o governo federal destina verbas para investimento ou custeio da produção, industrialização e comercialização dos produtos agrícolas. O plano entra em vigência em 1º de julho e vale até o fim de junho do ano seguinte.

Até a apresentação final do plano para a safra 2022/2023, o investidor pode esperar uma onda de "balões de ensaio" sobre a destinação de verbas para o setor. Mas a prova dos nove estará no plano a ser apresentado.

O agro tem a expectativa de que o volume de crédito e recursos disponibilizados para o seguro rural aumente assim como a equalização de juros para pequenos e médios produtores, como disse, em entrevista, o representante da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

O aumento das taxas de juros, que é uma tentativa de segurar a inflação, o próprio governo encarece o crédito para a produção de alimentos. O risco é cair em uma velha armadilha e aumentar a inflação ao tentar combatê-la.

O dinheiro mais caro nos bancos cria boas oportunidades para investir em renda fixa via emissão de títulos de crédito das empresas.

Os chamados CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) são títulos de renda lastreados em recebíveis dos negócios feitos por grandes players do agronegócio. Esses papéis têm a vantagem de serem isentos de imposto de renda.

Na Bolsa, os esboços do próximo Plano Safra deverão movimentar os preços das ações de empresas como Três Tentos (TTEN3); Boa Safra (SOJA3); SLC Agrícola (SLCE3); Brasil Agro (AGRO3); e Agrogalaxy (AGXY3).

Todos esses ativos tiveram alta logo após a invasão da Ucrânia pela Rússia (com investidores de olho na redução da oferta internacional de alimentos), para nos dias posteriores sofrerem quedas (com os anúncios de encarecimento da produção). Se efetivamente estamos saindo do "padrão dólar" e caminhando para o "padrão commodity", saber diferenciar o joio do trigo em relação aos auxílios do governo ao setor agro vai apontar as boas oportunidades para investimentos nos próximos meses.

Marcos de Vasconcellos é jornalista, CEO do Monitor do Mercado, colunista da Folha de S.Paulo e assessor de investimentos.

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