Visão Tech

Análises e discussões sobre investimentos e tecnologia, pela equipe do Newton Fund.

Crise exige olhar para fundamentos e segurança cibernética

Formou-se uma “tempestade perfeita”, e como este cenário de ciclo de alta de juros e guerra na Ucrânia persistem, é muito difícil prever o comportamento das ações no curtíssimo prazo, uma vez que a volatilidade e aversão ao risco permanecem altas.

icone de relogio 14/03/2022 16:01

Por Alexandre Constantini

Nas últimas semanas, as ações de tecnologia nos EUA sofreram demais, amplamente impactadas por 2 motivos principais: 1) as expectativas de um choque de juros mais agressivo que originalmente esperado como forma de combate à inflação (que afeta negativamente ações mais dependentes de financiamentos, como as Techs) e 2) a guerra na Ucrânia, gerando não somente uma maior tensão geo-política entre países que há algumas décadas vinham sendo parceiros comerciais (leia-se Rússia, com o mundo ocidental), mas principalmente pelas pressões inflacionárias nas commodities agrícolas e de energia, botando ainda mais lenha na fogueira da inflação e aumentando a aversão ao risco, consequentemente afetando ativos de renda variável.

Formou-se uma “tempestade perfeita”, e como este cenário de ciclo de alta de juros e guerra na Ucrânia persistem, é muito difícil prever o comportamento das ações no curtíssimo prazo, uma vez que a volatilidade e aversão ao risco permanecem altas. É um momento de cautela e paciência, e – idealmente - devemos evitar decisões precipitadas, especialemente quando vemos nosso portfólio “no vermelho”.

Desde já expressamos nosso apoio e solidariedade à Ucrânia e ao povo ucraniano, e condenamos a invasão russa. Profundamente lamentável que a diplomacia não consiga prevalecer em pleno século 21, principalmente após uma pandemia que parecia ter fortalecido os laços entre as nações ao redor do globo.

Enquanto a crise afugenta investidores, que correm para a segurança dos títulos de renda fixa, há setores que podem ser mais demandados neste período de turbulência, apesar da derrota coletiva para a humanidade gerada pela guerra.

As economias globais ainda seguem – de maneira geral – bastante fragilizadas, após os longos meses da pandemia, e num momento onde setores e cadeias produtivas cambaleavam para se reerguer, deparamo-nos com uma guerra,  extremamente disruptiva nesse processo de recuperação. A invasão russa desencadeou sanções por parte do mundo ocidental, levando a uma alta sem precedentes nos preços das mais variadas commodities (entre as quais petróleo, niquel, trigo).

Ainda que um acordo de paz entre Russia e Ucrânia seja selado nos próximos dias ou semanas, o estrago no mapa geo-político está feito, e as consequências serão sentidas por muitos meses. De bate-pronto, podemos assumir que os ciclos de aperto monetário serão mais longos e fortes, possivelmente com aumentos nas taxas de juros acontecendo antes do que esperado e em maior magnitude.

Esta semana, o FED deve iniciar o seu ciclo de aumento nos juros, e o que outrora indicava ser de 25bps já se tornou 50bps, o que pode se repetir algumas vezes ao longo do ano. Além disso, ficou mais evidente que a inflação será mais persistente que inicialmente esperado.

E isso leva a uma percepção negativa, com setores variados sofrendo com esta expectativa de piora na economia. O consumo das famílias encolhe, e o sentimento do consumidor nos EUA piorou em março, já indicando esta tendência. Assim sendo, sofrem empresas de e-commerce, sofrem as fintechs que processam pagamentos, há aumento de inadimplência, sofrem empresas de consumo discricionário.

Com vendas menores, as empresas cortam seus budgets de P&D, levando a menor crescimento de serviços corporativos diversos. Com a crise, o desabastecimento na cadeia de suprimentos aumenta, levando a falta de componentes na indústria, o que ja vem atormentando empresas dos mais mais variados setores. Enfim, é um “perde-perde” generalizado.

Neste contexto pouco inspirador, nos parece coerente buscar empresas com demandas mais inelásticas por seus produtos e serviços, e que consigam navegar com menos turbulências neste período difícil.

Preferimos também as empresas com sólidos fundamentos financeiros e que não dependam de financiamentos no momento. Segurança cibernética pode se beneficiar, numa tendência que ja vem se intensificando muito nos últimos anos. E preocupações com ESG e novas matrizes energéticas devem ganhar ainda mais terreno.

É este o desafio dos gestores nos próximos meses. Estamos reduzindo a volatilidade da carteira e aumentando posição em empresas que nos parecem ser mais seguras. Os fundamentos das empresas que compõem o portfólio do Newton Tech Fund são robustos e – dentro do cenário desafiador – permanecem sólidos e com excelentes perspectivas para o futuro.

Seguimos confiantes que tão logo o cenário atual se acalme, e investidores voltem a se preocupar com fundamentos, a carteira tende a responder positivamente. Daí a necessidade de olharmos o investimento em ações sempre num horizonte de longo prazo, de tal forma que oscilações de curto prazo possam ser corrigidas.

Alexandre Constantini é estrategista-chefe da gestora Catarina Capital.

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