Vozes de Mercado

Artigos de opinião sobre economia e investimentos, por diversos autores

Sustentabilidade tornou-se critério decisivo para investimento

A análise de fatores ESG (Environmental, Social & Governance) já deixou de ser uma questão periférica e se torna, cada vez mais, critério decisivo para a escolha das empresas-alvo as gestoras. Não faltam dados e exemplos que respaldem essa afirmação.

moedas sustentabilidade planta piqsels destaque blog

icone de relogio 10/12/2020 19:25

*Por Thomas de Mello e Souza

A análise de fatores ESG (Environmental, Social & Governance) já deixou de ser uma questão periférica e se torna, cada vez mais, critério decisivo para a escolha das empresas-alvo as gestoras. Não faltam dados e exemplos que respaldem essa afirmação.

moedas sustentabilidade planta piqsels destaque blog
Piqsels.com

Uma pesquisa da consultoria e auditoria EY mostrou que fatores não financeiros se tornaram parte fundamental do processo de tomada de decisão de investimento. Em um levantamento com investidores institucionais, 97% afirmaram que realizam algum tipo de avaliação não financeira nas empresas candidatas a receber investimentos.

No começo deste ano, a tradicional carta do CEO da BlackRock, Larry Fink, se tornou um marco sobre o assunto. Nela, o presidente da maior gestora de recursos do mundo anuncia uma série de iniciativas que colocam a sustentabilidade no centro da sua estratégia de investimento. Entre elas estão: fazer da sustentabilidade uma parte integrante da construção do portfólio e da gestão de risco; desinvestir daqueles com alto risco de sustentabilidade, como os produtores de carvão para termoelétricas; lançar novos produtos de investimento que filtrem os combustíveis fósseis; e fortalecer o compromisso com a sustentabilidade e a transparência em nossas atividades de gestão de investimentos.

As gestoras têm um dever fiduciário com seus cotistas, que é o de entregar o maior retorno ajustado ao risco. Não estamos falando necessariamente de redução do universo de cobertura, mas de analisar critérios ESG que podem impactar — negativa ou positivamente — o valor de uma companhia, ou seja, de uma medida de risco.

Na Europa, mais de 40% das gestoras incorporam critérios ESG ao tomar suas decisões de investimento, praticamente o dobro do que verificado nos Estados Unidos. Por aqui, o assunto ainda está ganhando corpo e apenas três gestoras — FAMA, JGP e Constellation — fazem o mesmo.

Ao analisar cada um desses parâmetros — ambiental, social e governança —, é preciso levar em consideração o custo de despoluição de uma companhia, ou seja, quanto ela gastaria para poluir menos versus os ganhos que teria com isso. Não se trata apenas de ganhos financeiros imediatos, mas também de estar mais preparado para eventuais mudanças regulatórias que obriguem a empresa a ajustar seus processos ou de evitar danos à imagem e reputação da companhia que causem rejeição por parte dos consumidores.

No aspecto social, estamos migrando de um capitalismo de shareholder para um capitalismo de stakeholder. A companhia precisa estar inserida de forma equilibrada na sociedade, levando em consideração a relação com o cliente, com o colaborador, com o fornecedor e com a comunidade.

Os principais questionamentos nesse âmbito dizem respeito ao turnover de colaboradores, à atração e retenção de talentos, ao engajamento dos clientes, ao risco reputacional, à rede de fornecedores, à relação com a comunidade local e à proteção de dados.

Por fim, ao observar a governança, os gestores procuram entender o nível de transparência da empresa, como está o alinhamento de interesses, a qualidade e a abertura na prestação de contas e a diversidade de opiniões dentro da companhia. Não estamos falando de estar no Novo Mercado ou ter conselheiros independentes, mas de ter processos bem-estruturados, controle, transparência, padrões éticos elevados e integridade.

Adotar critérios ESG nas decisões de investimento requer, portanto, uma mudança na cultura empresarial. Como dissemos, não passa por abrir mão do retorno financeiro, mas, pelo contrário, trata-se de buscar resultados sustentáveis no longo prazo. Para isso, empresa precisa ser transparente, contar com uma diversidade de opiniões e estar inserida de forma equilibrada na sociedade. Não basta ser benéfico apenas para o acionista (shareholder), é preciso observar o impacto para todos os envolvidos (stakeholders). Os riscos de deixar esses parâmetros de lado são muito grandes para serem ignorados.

*Thomas de Mello e Souza é portfolio manager da Atlas One Asset Management.

Quer melhorar sua estratégia para investir? Converse com um especialista da Wise Investimentos.