O mercado reage negativamente ao anúncio da Petrobras de ampliar os estudos para avaliar os investimentos em projetos de energia eólica offshore, em parceria com a norueguesa Equinor, feito ontem à noite. O dia também é negativo para as
cotações de petróleo e demais petrolíferas. Às 12h11 (horário de Brasília), os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4), PRIO (PRIO3), 3R (RRRP3) recuavam 2,10%, 1,81%, 3,66% e 2,09%, respectivamente. O Ibovespa operava em queda de 0,60%.
A Genial mudou a recomendação de “manter” para “vender” para a ação preferencial da Petrobras (PETR4) após a companhia assinar com a Equinor uma carta de intenções que amplia a cooperação entre as empresas para avaliar a viabilidade técnico-econômica e ambiental de sete projetos de geração de energia eólica offshore na costa brasileira, com potencial para gerar até 14,5 GW e, assim, avançar nos projetos de transição energética do país.
“Achamos a notícia negativa para o case da empresa. Se considerarmos a participação de 50% da Petrobrás nos projetos apresentados, a empresa passaria a ter um comprometimento de investir até R$ 130 bilhões nos próximos anos em eólicas offshore. Em nossa leitura preliminar, tais projetos devem ser muito desafiadores do ponto de vista da geração de valor aos acionistas tendo em vista os baixos preços de energia no segmento de geração (que atualmente opera em uma sobreoferta estrutural que deve durar pelo menos 4-5 anos) e alto custo do Investimento/MWh instalado. Além
disso, é importante citar que não estamos considerando atrasos ou explosão no orçamento de tais projetos devido a falta de expertise da empresa no desenvolvimento desse tipo de projetos”, comentou o analista Vitor Sousa, da Genial.
A corretora avalia que a empresa já negocia com desconto expressivo em relação aos pares (2,5x EV/EBITDA 23E vs 4-5x nos pares privados) mostrando que o mercado já antecipou boa parte do fluxo de noticias negativo, e entendes que, se por um lado os efeitos das recentes decisões de investir em renováveis e nacionalizar preços, ainda não acertaram em cheio a geração de caixa da empresa, por outro, imaginam que simplesmente não vale a pena esperar as idéias se manifestarem como fatos na geração de caixa da empresa que, por ser uma estatal, está exposta ao ciclo político eleitoral de pelo menos quatro anos.
“Corremos o risco de estar superestimando o fluxo de notícias aos fundamentos da empresa, mas tendo outras opções com menor exposição a ingerência política (como RRRP3 e PRIO3), não achamos por bem estar exposto ao case da nossa major nacional.”
O BTG Pactual avalia que qualquer impacto de curto prazo provavelmente será insignificante e comenta que atualmente, não há legislação regulamentando projetos de parques eólicos offshore no Brasil. Com isso, mesmo após possíveis aprovações de licenças e confirmação de viabilidade econômica, a construção de ativos pode levar muito tempo para se concretizar.
A análise considera que não está claro qual seria a participação das empresas nesta parceria, mas calcula que a conclusão de todos os projetos pode ter um valor substancial, citando que o capex médio para projetos eólicos na última década foi R$ 15-20 milhões por megawatt (MW), o que significa um capex total de aproximadamente R$ 218-290 bilhões para os parques eólicos da parceria entre Petrobras com a Equinor.
O BTG também acrescenta que a capacidade de 14,5 GW prevista nos projetos previstos no acordo de avaliação de viabilidade técnico-conômica anunciado ontem corresponde a 8% da capacidade instalada do país e mais mais da metade de sua capacidade eólica onshore, o que destaca ainda mais a magnitude potencial dos projetos.
Na visão dos analistas do BTG, os projetos precisariam ser incorporados ao plano estratégico da empresa, pois o atual não contempla investimentos desta escala no segmento eólico offshore, apesar de contar com recursos para P&D e soluções voltadas para a redução da pegada de carbono da empresa (que equivalem a US$ 800 milhões).
Por fim, o BTG mantém cautela em relação ao investimento na companhia, pois avalia devido à incerteza em relação à alocação de capital com a intenção da empresa em investir em áreas fora de suas operações tradicionais, o que, na sua visão, fará com que empresa desvie seu FCF para investimentos e potencialmente reduza o pagamento de dividendos.
“Parece que o apetite da Petrobras por crescimento em segmentos além E&P deve aumentar e a narrativa do novo CEO e do governo tende a se tornar uma realidade e ter efeitos práticos na empresa”, comentam os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte, em relatório que mantém a recomendação neutra para a ação da Petrobras e preço-alvo de US$ 13,50.
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Cynara Escobar / Agência CMA
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