A ação da Vale abriu o pregão sem direção definida, com viés negativo, em após a divulgação de seus resultados do quarto trimestre de 2022 (4T22) e dividendos do exercício do ano passado, ontem (16/2), após o fechamento do mercado, com analistas apontando que os números vieram em linha, enquanto aguardam a reunião pública de resultados, às 11h. Às 10h16 (horário de Brasília), após abrir em leve alta, o papel VALE3, que têm forte peso no Ibovespa, operava em queda de 0,50%, a R$ 88,74. O índice caía 0,50%.
O lucro líquido aos acionistas da Vale diminuiu 30,4% no quarto trimestre de 2022, para US$ 3,72 bilhões, enquanto a receita líquida encolheu 8,9%, para US$ 11,94 bilhões. Em 2022, o lucro da mineradora caiu para R$ 16,7 bilhões, de R$ 24,7 bilhões em 2021. A Vale anunciou dividendos e juros sobre o capital próprio (JCP) de R$ 2,12 por ação, com cerca de 2,4% dividend yield no 4T22, ou 9,5% anualizado, a serem pagos no dia 22 de março. Ainda, houve uma mudança na nomenclatura de suas divisões, com Minerais Ferrosos passando a se chamar Soluções para Siderurgia e Metais Básicos se tornando Materiais para Transição Energética.
Para os analistas da Genial Investimentos, os números vieram com algumas dinâmicas piores e outras melhores que o esperado, com a receita total e o ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ficando próximos das suas estimativas. Eles ressaltam que um efeito não recorrente afetando positivamente o lucro líquido, com o reconhecimento de imposto de renda diferido de subsidiária no exterior, que acabou ajudando o lucro líquido a vir acima do esperado pela corretora e pelo consenso.
“Com o 4T22 se consolidando como um trimestre de leve recuperação de margens tanto em base trimestral quanto anual, acreditamos que a recuperação foi influenciada pela reabertura chinesa e toda a expectativa de consumo atrelado ao final da política de Covid-zero. O destaque do trimestre foi uma aceleração no preço realizado, que mesmo vindo ainda abaixo da nossa estimativa, acertamos na tendência de alta”, escreveram os analistas, em relatório a clientes.
A avaliação aponta que a tendência de aceleração nos preços realizados de minérios finos para US$95,6/t (+3,2% t/t) ocorreu devido ao mecanismo de provisão de preços futuros, que foram impactados com a curva de referência de Platts 62% Fe subindo fortemente em dezembro, a partir da divulgação oficial do processo de reabertura da China, mesmo com 2/3 do trimestre ainda refletindo os impactos negativos do Covid-zero nos preços.
Essa dinâmica fez com que a curva de referência para o minério apresentasse uma contração de 3,9% ante do 3T22 na média do período, porém o preço provisionado futuro da Vale passou a agregar US$5,3 por tonelada no 4T22 versus uma retração de US$2,1 por t no 3T22, em reflexo de uma melhora nos horizontes a partir de dezembro, o que ajudou em um crescimento de receita na ordem de 20,3% em base trimestral.
“Apesar de positivo, o efeito dos preços provisionados no minério fino ainda veio abaixo das nossas expectativas. Estimamos que o preço realizado para Minérios Finos CFR/FOB chegaria em ~US$100/t no 4T22, mas ficou em US$95,6/t (-4,4% Est. Genial), o que para nós, é decepcionante.”
Ainda assim, mesmo o preço de minérios finos vindo aquém do que esperávamos, a receita foi parcialmente compensada por dinâmicas melhores que as projetadas para as pelotas e na unidade de metais básicos com o níquel, diz a Genial.
Por fim, a Genial mantém uma visão mais cautelosa sobre a companhia, tendo em vista uma crise imobiliária chinesa, com a expectativa dos lançamentos imobiliários em desaceleração durante 2023, impactando as siderúrgicas e por consequência, a demanda pela commodity ferrosa, e problemas de licenciamento ambiental dificultando o aumento da produção, principalmente em Serra Norte com a mina N5. “Mesmo com alguns desafios em vista, achamos que a reabertura chinesa pode ajudar o resultado de curto prazo da Vale, por exemplo no 1T23. Porém, em nossa análise, há um certo nível de especulação em cima de uma curva de minério no patamar atual de US$120/t.”
“Dessa forma, os preços das ações refletem mais o aumento da expectativa de consumo de minério, que nos parece irreal, do que essas dificuldades mais fundamentais intrínsecas a Vale e a China de longo prazo. Reiteramos nossa recomendação de “manter”, com preço-alvo de R$105,00, representando um upside de +17,73% para as ações da Companhia.”
Os analistas da XP também viram os resultados no 4T22 em linha com o esperado, com o ebitda proforma ajustado de US$ 5,0 bilhões, acima de suas estimativas e consenso em 3,0% e 0,4%, respectivamente, além de FCF de quase zero, reduzido pelo consumo de capital de giro de US$ 1,8 bilhão. “Os maiores preços realizados de minério de ferro, níquel e cobre, apesar dos custos estáveis de C1 para o minério de ferro, foram os destaques. Ainda gostamos da tese de investimento de longo prazo da Vale e é por isso que mantemos nossa recomendação de compra, mas no curto prazo estamos receosos com a discrepância da alta do preço do Minério de Ferro em relação a outras commodities (principalmente petróleo)”, comentou a XP.
Na opinião da XP, os principais temas a serem observados a partir daqui são os riscos do aumento das taxas de royalties no Brasil; até onde (e por quanto tempo) durará a alta do preço de Minério de Ferro; monetização nas operações de metais básicos; influência da Cosan na próxima assembleia de acionistas sobre a nova diretoria a ser eleita, e a demanda chinesa de aço após o fim dos bloqueios.
A Levante Ideias de Investimento viu o resultado “em linha com o esperado” e que o segmento agora nomeado Materiais para Transição Energética (Níquel e Cobre) apresentou ótima recuperação no trimestre, com Ebitda de US$ 775 milhões (vs. 364 milhões no 3T22). “A melhora no resultado da divisão veio principalmente de Níquel, com aumento no volume vendido e nos preços, além de uma redução no custo caixa. Já em Cobre, houve um aumento no preço médio do trimestre (+29 por cento t/t), parcialmente compensado por um custo mais elevado pela menor diluição de custos fixos”, comentaram os analistas da Levante.
A corretora também nota que o fluxo de caixa livre foi virtualmente zerado neste trimestre, sendo impactado principalmente por um maior desembolso de capital de giro e de capex, sazonalmente maiores no 4T. A dívida líquida expandida subiu para US$ 14,1 bilhões, ainda abaixo do centro da meta, de US$ 10-20 bilhões de dólares.
“Juntamente com o resultado, a Vale anunciou mais uma distribuição de proventos. Dessa vez, o valor a ser pago em dividendos e JCP é de 1,8 bilhão de dólares, implicando em um dividend yield de cerca de 2,2%”, finaliza.
Cynara Escobar / Agência CMA
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