A Bolsa fechou em alta, mas o Ibovespa operou grande parte do pregão no negativo em um dia em que os investidores repercutiram novamente as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com críticas aos juros altos no Brasil. Dessa vez foi no evento de cerimônia de posse do Aloizio Mercadante como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BDNES).
Somado a isso, os agentes financeiros ficaram preocupados com a possibilidade do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ser mais agressivo, após o payroll forte na sexta-feira.
A Petrobras (PETR3 e PETR4) subiu forte 3,62% e 3,99% refletindo a alta da commodity no mercado internacional e ajudou o movimento do Ibovespa, uma vez que as ações representam mais de 10% do índice. A Vale (VALE3) caiu e arrastou o setor.
O principal índice da B3 subiu 0,18%, aos 108.721,58 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro avançou 0,28%, aos 109.165 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,3 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no negativo.
André Fernandes, head de renda variável e sócio A7 Capital, disse que a postura mais defensiva do mercado hoje em geral pode ser “justificada pelo discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, que acontecerá amanhã à tarde e por expectativa do mercado com a ata do Copom também amanhã”.
Fernandes disse que o Ibovespa reflete a “queda de braço do governo com o Banco Central, com o presidente Lula criticando novamente a atuação do BC na condução dos juros; a alta da Petrobras ajuda a Bolsa não cair mais”.
As maiores altas do pregão, como Cielo (CIEL3), Vibra Energia (VBBR3) e Grupo Ultra (UGPA3) são atribuídas “a elevação de recomendações para a compra por parte do Citi em relação à Cielo, e Itaú BB com Vibra Energia e Grupo Ultra”, disse head de renda variável e sócio A7 Capital. Todas avançam mais de 3%.
Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA BS, disse que o mercado sempre vai reagir mal às sinalizações de interferência política na condução das decisões econômicas. “As críticas de Lula à independência do BC e ao patamar da taxa de juros se refletem no aumento do custo para a inflação convergir à meta, com elevação das projeções para o IPCA e da Selic; os juros não se reduzem na canetada, que costuma ter efeito contrário”.
Rodrigo Simões, economista e professor da FAC-SP, afirmou que a fala do Aloizio Mercadante, durante sua posse, mais cedo, “foi muito boa pois reconhece que o banco não repetirá os erros do passado e que procurará ser eficiente na gestão de empréstimos.
O economista e professor da FAC-SP disse que a fala do Lula sobre os juros e Banco Central deixa o mercado “de certa forma preocupado porque prejudica o desenvolvimento do setor privado e consequentemente afeta a Bolsa”.
Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que a piora na Bolsa reflete as falas do presidente Lula criticando o Banco Central e do Aloizio Mercadante.
“Preocupa o que disse Mercadante sobre o reajuste TLP-taxa longa de juros; não se tem nada concreto ainda, mas acreditasse que o governo tente alguma manobra para abaixar os juros na marra as falas preocupam porque o governo parece ter usado a taxa de juros como um grande problema a ser atacado no primeiro momento e não tem muito o que fazer a não ser uma colaboração com o fiscal os ‘bombeiros’ vão ter de entrar em cena para dizer que o governo não quer atacar a independência do BC, do contrário o dólar pode sofrer bastante”.
O operador de renda variável da Manchester Investimentos também disse que o que está “guiando o mercado é a pivotada do Fed, o payroll foi um sinal duro para a economia e aqui pegou mal a entrevista do Lula criticando o BC”.
Cima enxerga uma Bolsa pressionada esta semana “com Vale e exportadoras com a questão dos juros nos Estados Unidos e resultados dos bancos que devem reportar resultados piores que o esperado, a grande expectativa é para o Bradesco”.
Soraia Budaibes / Agência CMA
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