Prestes a indicar o novo presidente do Banco Central, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o tom de seus ataques à manutenção da atual taxa de juros e afirmou que o Banco Central deve estar preparado tanto para baixar quanto para aumentar os juros, quando necessário. A declaração foi feita durante entrevista à Rádio Gaúcha, nesta sexta-feira (16).
Antes defensor ferrenho da redução da taxa Selic, atualmente em 10,5%, Lula agora deixa aberto o caminho para o sucessor de seu desafeto Roberto Campos Neto: “Na hora que precisar reduzir a taxa de juros, ele [novo presidente do BC] precisará ter coragem de dizer que vai reduzir. Na hora que for aumentar, ele precisa ter a mesma coragem de dizer que vai aumentar”, afirmou.
O petista garantiu que não pretende interferir nas decisões sobre o corte dos juros. “(Em) todo momento que o presidente da República se meteu a ser economista, não deu certo este país”, disse, na entrevista.
Indicação de Galípolo cada vez mais perto
O mandato do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, se encerra no final deste ano, e há meses existem discussões no governo sobre o processo de transição entre presidentes na instituição.
O nome mais cotado para substituí-lo é Gabriel Galípolo, atual secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Ontem (15), Gerson Camarotti informou em seu blog no G1, que a indicação de Galípolo deverá acontecer em duas semanas.
Nesta manhã, Lula destacou que o próximo presidente do BC deverá ter “caráter, seriedade e responsabilidade” para conduzir a política monetária com foco no interesse do povo brasileiro, mas deixou em aberto o nome do novo mandatário.
“Antes de indicar, eu quero conversar com o presidente do Senado, quero conversar com o presidente da comissão, para que as pessoas, ao serem indicadas, sejam votadas logo”, disse ele.
Campos Neto não descarta subir juros
Durante participação no evento Barclays Day, promovido pelo banco britânico Barclays, Campos Neto, não descartou a possibilidade de uma alta nos juros, caso necessário.
Ele reforçou que os dirigentes da instituição não estão projetando oficialmente um aumento ainda. “Não estamos dando um guidance, mas faremos o que for necessário para levar a inflação à meta — e, se aumentar os juros for necessário, nós aumentaremos”, disse Campos Neto.
Segundo ele, o Banco Central continua “muito incomodado” pelo fato de as expectativas de inflação do mercado continuarem acima da meta. Ele garantiu que a desancoragem está sendo observada de perto, principalmente em relação às projeções mais longas.