A Bolsa acentuou as perdas com investidores pessimistas em relação a perspectiva de lucros do mercado financeiro. Os investidores digerem dados de inflação nos Estados Unidos que vieram dentro do esperado mas não surpreenderam positivamente e mantiveram o clima de aversão ao risco e falas de Lula de que os bancos públicos, especialmente o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), deverão apoiar os Estados em obras públicas. Além disso, o mau humor da véspera com a confirmação de Jean Paul Prates na presidência da Petrobras contamina a sessão desta sexta-feira.
Em período com divulgação de balanços e feriado na China, o noticiário volta-se para os EUA. O índice de preços de gastos com consumo (PCE) – a medida de inflação preferida do Fed e os dados de confiança do consumidor – teve alta de 0,1% em dezembro na comparação mensal, depois de registrar também crescimento de 0,1% em novembro. Na comparação anual, o índice subiu 5,0% em dezembro, após uma alta de 5,5% em novembro. O núcleo do PCE, que exclui do cálculo os preços de alimentos e energia, subiu 0,3% em termos mensais e cresceu 4,4% em termos anuais em dezembro, após a alta de 0,2% registrada em novembro em base mensal e de 4,7% em base anual. As duas leituras de dezembro vieram de acordo com a expectativa dos analistas.
O presidente Lula e o ministro da Fazenda Fernando Haddad estão em reunião com governadores em Brasília para debater a reposição das perdas de arrecadação do ICMS. Os Estados acumulam perdas de mais de R$ 33 bilhões em arrecadação com a redução das alíquotas de ICMS para combustíveis, energia, comunicações e transporte.
Às 13h05 (horário de Brasília) o principal índice da B3 caía 1,74%, aos 112.186,65 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro recuava 1,66%, aos 112.795 pontos. O giro financeiro era de R$ 7,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas operam mistas.
Para Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, o movimento da Bolsa até o início da tarde reflete um misto do cenário internacional e local. “O PCE veio de acordo com a expectativa, mas acho que o mercado esperava que viesse mais fraco, então isso impacta bastante nas expectativas de que o banco central norte-americano reduza a política de elevação dos juros”, avalia Komura.
Em relação ao noticiário local, Komura comenta que os discursos do governo em relação ao fiscal não estão sendo bem recebidos, com Lula falando que o BNDES poderá ser usado para fomentar obras publicas. “Em relação ao BNDES, gera preocupação de piora das contas com gastos onde não precisa ou que gerem baixo retorno. A partir do momento que [o governo] dá preferência a alguns setores e empresas, gera desequilíbrio do mercado.”
O mercado também não recebeu muito bem a confirmação de Jean Paul Prates na Petrobras, que já era visto como negativa pelo mercado por conta das ações que ele defende para a gestão da empresa, que devem reduzir os ganhos para os acionistas. As ações PETR3 e PETR4, que têm forte peso na Bolsa, caem2,09% e 2,32%.
Para Guilherme Sousa, da Ativa Investimentos, o PCE mostrou-se relativamente mais forte do que o esperado ao exibir alta de 0,1% MoM, ante expectativa de 0,0%. Os núcleos, por sua vez, avançaram exatamente conforme o esperado, 0,3%. O acumulado em doze meses do hedline recuou de 5,5% para 5,0%, contudo, a desaceleração estrutural da inflação apresentou menor ímpeto, recuando de 4,7% para 4,4%, ambos numericamente idênticos às expectativas.
“Lemos a divulgação como marginalmente dovish, principalmente quando consideramos as surpresas e revisões baixistas do Personal Income e do Personal Spending, reforçando a perspectiva de que o ciclo de alta de juros está muito próximo do fim. Em outras palavras, o resultado de hoje retira pressão adicional sobre os juros, ampliando a probabilidade de que assistiremos apenas mais uma elevação de 25 bps da Fed Funds Rate. De todo modo, os membros do Fed deverão trazer na próxima reunião do Fomc uma comunicação dura, a fim de recompor a sinalização de que o ciclo chegou ao fim, afastando assim cenários que precificam cortes considerados precoces pelos membros”, comentou.
Para Rafael Perez, economista da Suno Research, os dados de inflação de 2022 demonstram que este foi um dos anos mais desafiadores para o Fed das últimas décadas, mas indicam cada vez mais que o pior já passou. “Apesar das quedas nos preços de energia e de bens, os preços de alimentos e serviços continuam sendo os principais vilões, tornando a inflação mais resiliente e impedindo uma queda mais rápida. Isso deve contribuir para uma manutenção dos juros em patamares elevados por mais tempo.”
Frente aos últimos dados de inflação, o analista estima uma alta de 25 bps (0,25 p.p.) na próxima reunião do Fed, em fevereiro e, para este ano, a perspectiva é de que a taxa fique em torno de 5,00% a.a. “Por fim, acreditamos que quando tivermos mais indícios de que a autoridade monetária encerrará o ciclo de alta das taxas de juros, o ambiente econômico e acionário tende a melhorar, aumentando o apetite por risco dos investidores.”
Cynara Escobar / Agência CMA
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