O lítio é o novo foco da parceria entre Brasil e Chile, que deve emaranhar as cadeias de produção entre os países e a China. O material é um componente essencial para a produção de baterias e entra na cota de “investimentos verdes” chilenos.
No evento “Seminário Chile – Atração de Investimentos”, ocorrido nesta semana em São Paulo, estiveram juntos, além de empresários brasileiros e a FIESP, o embaixador do Chile no Brasil e membros do Ministério de Infraestrutura, do Ministério de Transporte e da Subsecretaria de relações exteriores do Chile.
As falas dos convidados demonstraram que a nova parceria entre Chile e Brasil vai ser pautada em lítio e energia verde.
Hoje, Chile, Argentina e Bolívia formam o chamado “Triângulo do lítio”, com cerca de 60% das reservas globais reconhecidas, segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe).
O Brasil já é o 5º maior produtor, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME) e se essa parceria der frutos, nosso país deve subir de posição no ranking.
Como funcionaria essa parceria?
Desde 2022, está em vigor o acordo de livre-comércio entre Brasil e Chile. A subsecretária de Relações Econômicas Internacionais do Chile, Claudia Sanhueza, conta que as trocas comerciais entre os países já atingem US$ 15 bilhões de dólares, graças ao acordo que acaba com as taxas alfandegárias.
“As exportações do Chile ao Brasil são totalmente livres do pagamento de taxas alfandegárias e as exportações [brasileiras] têm uma taxa efetiva de 0.1%”, afirmou Sanhueza.
Com o imposto zerado, o Chile pode desovar sua produção de lítio aqui para o Brasil — em momento oportuno já que os preços do minério despencaram 78% desde o começo do ano, devido ao excesso de oferta no mercado.
Aqui no Brasil, o lítio pode ser vendido para a China, responsável por 22,4% das importações globais do minério. Apesar do país não ter tratado de livre comércio com Brasil, ele faz parte do BRICS, o que facilita as operações.
Esse comércio, inclusive, não precisa ser feito nem em dólar, já que Brasil assinou um acordo internacional com a China que permite o uso do real e do yuan (moeda chinesa) nas transações.
Produção de baterias no Brasil
No evento em São Paulo, entretanto, o embaixador do Chile, Sebastián Depolo, deu outra alternativa, além da exportação: o uso do lítio para a construção de baterias elétricas em solo brasileiro. Ele usou os planos da BYD, fabricante chinesa de veículos elétricos, como exemplo.
“Essa empresa pretende construir uma fábrica de produção de lítio no Chile, com investimento de 290 milhões de dólares, e isso permitiria efetivamente agregar valor à nossa produção de lítio. Ao mesmo tempo, a companhia anunciou a instalação de três fábricas no Brasil de ônibus e caminhões elétricos, de automóveis híbridos e elétricos”, conta Depolo.
Os automóveis verdes aqui produzidos, inclusive, podem voltar ao Chile, já que o país pretende atualizar todos o transporte público urbano para elétricos até 2035.
A comitiva que participou do evento também visitou a fábrica da Mercedes aqui no Brasil, para conhecer a sua produção de ônibus elétricos.
Vale lembrar que o governo chileno tem um fundo de crédito de US$ 500 milhões por ano para fazer “investimentos verdes”.
Apesar da extração do lítio, assim como a da maioria dos minérios, não ser nada sustentável, como ele é essencial para a bateria de veículos elétricos, o investimento é considerado “verde”.
Uso de veículos elétricos no RJ e em SP
A substituição de frotas por veículos elétricos ainda é um desafio para o poder público brasileiro. O ex-executivo da prefeitura de São Paulo, em conversa com a redação do Monitor do Mercado, contou que recebia mensalmente propostas de empresas para substituir a frota de ônibus da cidade por veículos elétricos. “Nenhuma delas diz, no entanto, como vamos descartar as baterias daqui a 15 anos”, reclamou.
A dificuldade de destinar corretamente as baterias de lítio é justamente o que tem segurado a troca dos veículos por um modelo que seja considerado mais sustentável.
Já no Rio de Janeiro, a eletrificação da frota deu um passo importante em outubro. O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou um financiamento de R$ 2,5 bilhões para viabilizar a aquisição de 1.600 veículos elétricos pela prefeitura carioca.