O drama de Maceió com a Braskem tem um novo capítulo: foi divulgado, nesta quarta-feira (29), o risco da mina número 18 (localizada próxima à Lagoa Mundaú, no bairro do Mutange) colapsar. A Prefeitura da cidade decretou estado de emergência, e evacuou moradores das áreas mais próximas à mina.
Não é claro se o mercado reage ao problema, mas os papéis da Braskem (#BRKM5) registraram queda de 1,2% até às 15h desta quinta (30). No último mês, as ações subiram 25,33%. Neste ano, a queda foi de 13%, enquanto o Ibovespa subiu quase 20%.
Na última terça-feira (28), a Braskem realizou seu Investors Day, onde anunciou que, dos R$ 14,4 bilhões de indenizações e gastos estimadas por conta do afundamento do solo de Maceió, R$ 9,2 bilhões já haviam sido desembolsados.
Famílias desamparadas
Em entrevista ao Monitor do Mercado, Cleiton Alexandre Ferreira da Silva, morador do bairro Mutange, disse que a Braskem tenta “tampar” as antigas minas (cavernas abertas pela extração de sal-gema) para evitar o colapso do solo. A mina em questão, que agora corre perigo de colapsar, seria a mina número 18 (próxima ao campo de futebol da CSA — Centro Sportivo Alagoano) — de 30 minas espalhadas pela cidade.
Segundo Silva, vários moradores da região perceberam tremores em suas casas, com movimentações de lustres e móveis pelo abalo sísmico do solo. “A Defesa Civil do Estado, a Braskem e geólogos disseram que o teto dessa mina pode colapsar a qualquer momento. Evacuaram os trabalhadores da Braskem que trabalham dentro do local. Fazem dois, três dias que ninguém trabalha, ninguém entra”, diz.
Apesar da evacuação dos trabalhadores da empresa, Cleiton relatou que os únicos moradores que receberam ordem de evacuação foram os que moram próximos à Lagoa Mundaú. A decisão gerou insatisfação por parte dos moradores, que temem o colapso da mina 18 e pedem, em protesto, por evacuação em outras regiões próximas.
Kleverton, filho de Cleiton, relatou que a ordem inicial, em no caso de emergência, é de evacuar os moradores para as escolas ou casa de familiares. Não houve nenhum anúncio sobre indenização ou cobertura de custos para hospedagem.
Negócio bilionário travado
Reportagem do Monitor do Mercado publicada em setembro mostrou como a indenização às pessoas que perderam suas casas com o afundamento do solo em Maceió (AL) ameaça travar a venda da Braskem, avaliada em R$ 37,5 bilhões. O caso era visto como uma questão humanista, mas tornou-se um ponto central para um dos negócios mais caros do Brasil.
A gigante da petroquímica é controlada pela Novonor (antiga Odebrecht), com uma participação relevante da Petrobras. Ambas as companhias demonstram interesse em vender suas participações, que tem sido disputada por empresas como Unipar e J&F, dona da JBS.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) tem se movimentado garantir que a venda não seja feita antes de os moradores de Maceió, afetados pela extração de sal-gema pela Braskem, recebam suas respectivas indenizações. “Antes de qualquer negociação envolvendo a Braskem – venda ou ampliação do capital da Petrobras – passamos primeiro pela necessidade da Braskem e da Petrobras, em seguida, honrarem o contrato social que assumiram com o Estado de Alagoas”, disse em pronunciamento em março, na tribuna do Senado.
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