Pela segunda vez desde o surgimento do banco dos Brics, grupo que reúne Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul, o Brasil é o país que mais pegou dinheiro emprestado no ano.
No total, em 2022, o governo brasileiro já pegou R$ 3,7 bilhões (US$ 690 milhões) da instituição internacional.
Os empréstimos são feitos através do banco NDB (Novo Banco de Desenvolvimento) e o valor usado pelo Brasil tem chance de crescer ainda mais neste ano, se outros projetos propostos forem aprovados.
A decisão de aprovar ou não os empréstimos é dos governantes e diretores do banco, que são os ministros da Economia e secretários de Relações Exteriores dos países membros.
Financeiramente, costuma ser mais fácil pedir dinheiro aos Brics do que ao FMI por exemplo, que cobraria ao Brasil uma taxa de juros mais alta devido ao seu baixo rating de crédito (BB+).
Esses empréstimos já podem ser visualizados na dívida externa brasileira. De janeiro de 2020 a setembro de 2022, houve um aumento de 17% no débito internacional do Brasil.
Os picos do gráfico, vistos nos saltos de maio para julho e de novembro para dezembro, são produtos de empréstimos de US$ 1 bilhão feitos para custear o combate aos efeitos da pandemia aqui no Brasil.
Em julho de 2020, o Brasil pediu ao Brics uma bagatela de US$ 1 bilhão para pagar os custos do Auxílio Brasil (chamado pelo banco de Basic Emergency Aid) e o Bolsa Família – ainda existente à época do empréstimo.
Em dezembro de 2020, pediu mais US$ 1 bilhão para ajudar no fornecimento de crédito aos empreendedores na época do Covid. Até a Sabesp aproveitou a boa vontade do grupo e conseguiu um empréstimo de até US$ 300 milhões.
Esses e outros projetos garantiram a liderança do Brasil no ranking das nações que mais pediram dinheiro ao NBD em 2020.
Na prática, o Brasil decidiu arcar com uma dívida estrangeira (e matar suas reservas internacionais) em vez de emitir títulos do tesouro nacional. E por que isso é importante?
As reservas internacionais atuam como um colchão em épocas de crise, servindo como um “seguro” para que o país mantenha sua moeda valorizada e garanta suas obrigações externas.
De 2019 para cá, nossas reservas estão em uma tendência íngreme de queda e em outubro deste ano chegaram no seu mais baixo patamar em 11 anos.
Mas, de acordo com os economistas, isso não é motivo para desespero,
Ezequiel Laplane, professor e doutor em Economia pela Unicamp, afirmou que “o Brasil ainda tem uma posição sólida nas reservas” e que, os testes de estresse, feitos para verificar a saúde das reservas brasileiras, comprovaram que o país ainda detém uma posição “robusta”.
“US$ 35 bilhões de dólares não se perdem do dia para a noite”, afirmou Laplane, em entrevista ao Monitor do Mercado.
Em 2022, o Brasil pegou menos empréstimos com o Brics do que em 2020, mas suas reservas tiveram uma queda significativamente maior. O economista explica que isso se dá porque as reservas internacionais estão atreladas aos títulos do tesouro americano.
“Cerca de 80% das reservas são relacionadas a taxa de juros dos Estados Unidos”, disse Laplane.
Com a alta inflacionária e o aperto na política monetária americana, os ativos do tesouro desvalorizaram, e por isso, com seus preços mais altos, a reserva diminuiu.
Quanto aos empréstimos do Brics, o economista afirmou que “faz parte do jogo, da estratégia internacional do Brasil e dos próprios Brics”.
Como Lula vai se virar para pagar o Auxílio?
De empréstimos do Brics até suplicar por mais dividendos estatais, o governo Bolsonaro tem usado das mais diversas estratégias para bancar o Auxílio Brasil.
A questão é que a gestão acabou jogando a conta para o próximo ocupante do Palácio do Planalto, que irá enfrentar um orçamento duro e o preço de suas promessas de campanha.
A PEC de transição, que tentará cobrir o aumento real do salário mínimo e o Auxílio Brasil de R$ 600, ainda não foi apresentada pela equipe de transição do presidente eleito – Luiz Inácio Lula da Silva –, coordenada pelo seu vice Geraldo Alckmin, mas pelas perspectivas da CNN, deve crescer o orçamento da União em R$ 175 bilhões.
Nesta quinta-feira (10), Lula discursou para a nação e reforçou seu compromisso com projetos sociais.
“Muitas coisas que são consideradas como gastos neste país, precisam passar a ser encaradas como investimento. Não é possível que se tenha cortado dinheiro da farmácia popular em nome de que é preciso cumprir a meta fiscal, cumprir a regra de ouro”, apontou o futuro presidente.
De jeito ou outro, o primeiro desafio do governo Lula será fechar a conta desse orçamento. Agora, é esperar quais serão as manobras adotadas pelo novo presidente para bancar seus programas sociais.
Imagem: Marcos Corrêa/PR