Nessa sexta-feira (24), o mercado de câmbio doméstico observou o dólar à vista encerrando o dia em leve queda, abaixo da marca de R$ 4,90. Esse movimento acompanhou a desvalorização da moeda americana no cenário internacional, que foi influenciada por indicadores abaixo das expectativas na indústria dos Estados Unidos.
Influências do mercado interno e externo
Os ruídos políticos e o crescente tensionamento entre o Congresso e o governo, especialmente após o veto do presidente Lula à prorrogação da desoneração da folha de pagamentos, foram elementos monitorados, porém, sem impacto significativo na formação da taxa de câmbio.
Com a redução do pregão em Nova York devido à Black Friday, o mercado local operou em ritmo lento, oscilando pouco mais de dois centavos entre a mínima (R$ 4,8831) e a máxima (R$ 4,9068). O dólar à vista encerrou o dia em baixa de 0,17%, cotado a R$ 4,8984. Apesar de maior em comparação ao dia anterior, quando não houve negociações nos mercados americanos devido ao Dia de Ação de Graças, a liquidez permaneceu reduzida.
Comportamento do dólar ao longo da semana e do mês
Na semana, o dólar à vista acumulou uma leve desvalorização de -0,15%. As moedas latino-americanas em paridade com o real apresentaram um desempenho mais expressivo, com um ganho semanal superior a 0,5% em relação ao dólar. Fatores como desconforto no campo fiscal, aumento da previsão de déficit primário para 2023 e a pressão sazonal das remessas ao exterior teriam sido obstáculos para uma valorização mais robusta do real nos últimos dias. No mês, o dólar registrou uma queda de 2,84% frente à moeda brasileira.
Indicadores econômicos e impactos nos mercados
O índice DXY, que mede o comportamento do dólar em relação a seis moedas fortes, mostrou uma queda de aproximadamente 0,40%, abaixo dos 103.400 pontos no fim da tarde. Nos Estados Unidos, o índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial caiu de 50 em outubro para 49,4 em novembro, abaixo das expectativas dos analistas que aguardavam uma alta para 50,2. Leituras inferiores a 50 indicam contração da atividade. Por outro lado, o PMI de serviços subiu de 50,6 para 50,8, superando a projeção de alta para 50,7.
Análise e perspectivas de especialistas
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, destaca a influência do ambiente externo no comportamento da taxa de câmbio. Ele observa uma mudança na percepção de risco em relação aos movimentos da curva de juros nos EUA. No curto prazo, o debate sobre um possível aumento adicional da taxa básica do Federal Reserve parece ter se dissipado.
Lima destaca ainda que, no Brasil, a manutenção de termos de trocas favoráveis, impulsionada por um forte fluxo comercial, tem contribuído para o desempenho do real nas últimas semanas. Ele aponta que as pressões sobre a moeda devido às remessas de lucros e dividendos no final do ano tendem a ser pontuais. Contudo, ressalta a possibilidade de uma valorização mais expressiva do real, desde que não haja agravamento do risco externo, com a percepção de aumento das taxas nos Estados Unidos.
Impactos políticos e perspectivas legislativas
No âmbito nacional, o veto do presidente Lula à prorrogação da desoneração da folha de pagamentos gerou debates e preocupações. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se comprometeu a apresentar medidas sobre o tema após consultar municípios e setores potencialmente afetados. Analistas consideram o veto como positivo do ponto de vista fiscal, mas alertam para possíveis atritos com o Congresso, o que poderia dificultar a tramitação das medidas propostas pela Fazenda para aumentar a arrecadação federal.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mencionou que o Senado está aberto a ouvir as propostas de Haddad. No entanto, ressaltou o apoio parlamentar à desoneração da folha, sinalizando a possibilidade de derrubada do veto. A votação dos projetos relacionados à taxação de fundos exclusivos, offshore e apostas esportivas é esperada para a próxima semana.
Com informações do Broadcast
Imagem: Piqsels