O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira (21), em alta de 0,96%, alcançando a cotação de R$ 4,8983, após atingir o pico de R$ 4,9090 durante a tarde. O movimento foi impulsionado por um aumento do sentimento de risco nos mercados internacionais. Esse avanço anulou boa parte das perdas registradas ontem, quando a moeda atingiu o menor patamar desde 2 de agosto, chegando a R$ 4,85.
Pressão no mercado de renda fixa americano e seu impacto
Os picos do dólar à tarde surgiram com uma nova onda de tensão no mercado de renda fixa dos Estados Unidos. Um leilão de títulos públicos atrelados à inflação de 10 anos, com demanda abaixo da média, resultou em um breve aumento nas taxas dos Treasuries longos. Esse cenário abalou as bolsas em Nova York e as moedas emergentes.
O índice DXY, que mede o comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, apresentou alta consistente, superando pontualmente a marca dos 103.700 pontos após às 16h. Esse movimento foi desencadeado pela divulgação da ata do encontro de política monetária do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) em 1° de novembro. Contudo, posteriormente, o Dollar Index reduziu o ritmo de alta, operando abaixo dos 103.600 pontos, e as taxas dos Treasuries longos também apresentaram leve queda. Essa conjuntura reduziu a pressão sobre o real nos minutos finais da sessão, fazendo o dólar fechar abaixo de R$ 4,90.
Fed adota postura cautelosa e projeções dos especialistas
Na ata, dirigentes do Fed enfatizaram a necessidade de manter uma política monetária restritiva por “algum tempo” e destacaram o aperto das condições financeiras nos últimos meses, devido ao aumento das taxas dos Treasuries mais longos. Advertências habituais sobre a busca pela meta de inflação e a possibilidade de alta adicional dos juros foram mencionadas.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, apontou um “tom cauteloso” na ata, indicando espaço para mais aperto monetário. Ele ressaltou que, apesar disso, não projeta novas altas de juros. Borsoi destacou que o Fed busca manter as taxas de juros restritivas, evitando alívio nas condições financeiras, o que poderia prejudicar a atual desinflação.
Análise do mercado doméstico e reflexos
Para Felipe Garcia, chefe da mesa de operações do C6 Bank, a alta do dólar no mercado doméstico reflete o fortalecimento da moeda americana no exterior, especialmente em relação às moedas emergentes. Ele observa que, apesar da melhoria na semana passada com os dados de inflação americana, hoje o mercado internacional está em uma postura de risco menor (“risk off”), revertendo alguns ganhos recentes.
As expectativas de parte do mercado agora não apenas descartam um aumento adicional dos juros nos EUA neste ano, mas também projetam um início de ciclo de cortes no primeiro semestre de 2024.
Desdobramentos econômicos no Congresso e comentários do BC
Enquanto isso, a agenda econômica no Congresso Nacional foi monitorada, com adiamento para amanhã das votações de projetos como os fundos exclusivos e offshore, assim como das apostas esportivas na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Esses projetos são parte dos esforços da equipe econômica para ampliar a arrecadação e atingir a meta fiscal de déficit primário zero em 2024.
No evento “Fórum de Brasília”, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou que os esforços do governo na área fiscal têm contribuído para a gestão da política monetária. Ele enfatizou que os cortes contínuos da taxa Selic não devem afetar o câmbio, considerando o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, que deve permanecer elevado.
Com informações do Broadcast
Imagem: Piqsels