Nos Estados Unidos, a produção de chips virou uma questão de segurança nacional. Agora, toda a cadeia de fabricação dos semicondutores está prestes a mudar. Em entrevista exclusiva ao Monitor do Mercado, Marcio Aguiar — diretor da NVIDIA para a América Latina — abriu os planos da empresa para migrar suas fábricas.
As ações da NVIDIA, multinacional de tecnologia que produz componentes eletrônicos, despontaram no último ano, com a crise na produção de chips e com a corrida pelo mercado de Inteligência Artificial, que demanda processadores cada vez mais potentes.
Nos últimos 12 meses, suas as ações na Nasdaq subiram 205%, enquanto o índice Nasdaq Composite (espécie de Ibovespa da Bolsa de tecnologia dos EUA) registrou uma alta de cerca de 18%.
A empresa não possui fábricas de chips, ela desenvolve a arquitetura dos processadores, produzidos fisicamente pela Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), que fica em Taiwan.
Agora, entretanto, o Congresso dos Estados Unidos está pressionando as empresas para que a produção de chips seja feita em solo americano. E a NVIDIA já tem planos para aceitar o desafio e migrar parte da sua produção para os EUA e para o México, conta Marcio Aguiar.
O que está acontecendo nos Estados Unidos?
No ano passado, o Congresso passou o projeto de lei “CHIPS and Science Act”, que deveria anunciar um aumento de 280 bilhões de dólares em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) público. Mas os legisladores enfrentam desafios na apropriação de fundos para cumprir metas orçamentárias em 2023, com previsões ainda mais duras para 2024.
A verdade é que o dinheiro está caro nos Estados Unidos, onde o Federal Reserve (FED, algo como o Banco Central dos EUA) tenta controlar a inflação com uma política monetária agressiva – com aumentos de juros ainda no radar.
Agora, com o Chips and Science Act, os congressistas querem barrar a importação de chips para proteger a indústria local, afirmando que está é, inclusive, uma questão de Segurança Nacional.
Apesar dos Estados Unidos serem líderes na tecnologia, a produção dos semicondutores é feita do outro lado do mundo, na China, no Taiwan e na Coreia do Sul.
Com 3 guerras em andamento envolvendo Oriente Médio, Ásia e Europa (Palestina x Israel; Ucrânia x Rússia; e Armênia x Azerbaijão) e o mundo ainda sentindo os efeitos da pandemia, não há, hoje, uma produção que atenda à gigante demanda dos componentes tecnológicos.
Além disso, as tensões entre China e Taiwan estão em crescente, preocupando o mercado.
Para onde vão às fábricas?
Marcio Aguiar contou com exclusividade ao Monitor do Mercado que já existem planos para as fábricas começarem a ser construídas nos Estados Unidos, mas que a transição não será tão rápida:
“Vai demorar no mínimo dois anos até que tenhamos uma produção num volume à altura do que hoje a gente produz em Taiwan, onde está o nosso parceiro, a TSMC”, afirmou Aguiar.
Os planos não são exclusivos da Nvidia, para o diretor acontecerá um “efeito cascata” de migração das fábricas para atender a demanda do gigante americano. Mas isso não significa que ele discorda do Legislativo americano: “o governo americano está fazendo um trabalho que tem que ser feito nessa regulamentação”, afirmou.
Afinal, é bom lembrar que os chips são usados na produção de smartphones, carros, mísseis, drones, relógios, videogames, computadores, e tudo que você pensar que necessita um instrumento de processamento de dados para realizar uma tarefa.
Com a alta demanda e a dificuldade de supri-la, outros países parceiros dos Estados Unidos também podem se tornar novos centros de produção.
México como oportunidade
Colado nos Estados Unidos, o México já virou o centro produtor dos maquinários e da indústria automobilística que supre o mercado americano. Tudo isso, devido ao USMCA, um acordo de livre comércio entre os EUA, o Canadá e o México.
Apesar do USMCA ser mais restritivo, como a obrigação de que 75% das peças de um carro sejam fabricadas nos Estados Unidos, o acordo não tem restrições, ainda, sobre o mercado de semicondutores. E é aí que está a oportunidade.
O dinheiro está caro nos Estados Unidos e sua produção é conhecidamente mais cara do que a produção mexicana, por isso, se o USMCA não restringir o mercado, cria-se uma oportunidade para o México se tornar o centro de produção dos semicondutores.
Ainda que haja uma restrição, nenhum país fabrica todas as peças essenciais para o funcionamento do mercado, Chris Miller, autor de livros como A Guerra dos Chips (Globo Livros, 2023) afirmou em entrevista à BBC News Mundo que o México pode ganhar uma vantagem na montagem e embalagem do produto:
“O México pode desempenhar um papel importante na montagem e embalagem. O país já possui uma indústria de montagem desenvolvida no setor automotivo e no setor de dispositivos médicos”, disse Miller.
A Nvidia, por exemplo, já está posicionando equipes no México, seu segundo maior mercado, conforme Marcio Aguiar contou ao Monitor do Mercado.