A Bolsa avançou quase 2% após decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que deixaram o mercado menos pessimista em relação ao cenário fiscal, com a queda nos juros refletindo no avanço dos papéis de varejo, principalmente, e em papéis de setores ligados à economia doméstica, como bancos, construção e turismo.
Os dados do Boletim Focus divulgado hoje mostraram ainda uma perspectiva de inflação menor para o fechamento do ano, o que favoreceu as varejistas com a queda dos juros. As instituições financeiras ouvidas pelo Banco Central (BC) na pesquisa Focus elevaram de 5,08% para 5,17% a previsão para a inflação medida pelo Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023.
O mercado segue de olho em Brasília para acompanhar os desdobramentos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição e novos anúncios de nomes para compor ministérios e equipe econômica do governo eleito.
O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou o orçamento secreto por 6 votos a 5 contra as emendas do relator, o chamado “Orçamento Secreto”, acompanhando a decisão da relatora Rosa Weber, presidente do tribunal, após voto do ministro Ricardo Lewandowski que a acompanhou.Por um lado, o resultado impõe uma derrota ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que tinha no mecanismo a principal moeda de troca para acordos políticos no Congresso, mas analistas veem uma desvantagem para Lula na negociação da PEC.
Com a decisão do Supremo, as emendas de relator só podem ser usadas agora para correções no projeto de lei orçamentário. A decisão passa a valer imediatamente.
A PEC da Transição deve ser votada amanhã (20), na Câmara, mesmo após a decisão, neste fim de semana, do ministro do STF Gilmar Mendes, de que transferências sociais não devem ser usadas dentro do escopo das regras fiscais e que receitas extraordinárias possam ser usadas, se necessário for, para o pagamento destas.
O PT disse que continuará a negociar a aprovação da PEC mesmo após a decisão de Gilmar Mendes, segundo o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em pronunciamento no meio da tarde em que anunciou os nomes de Anelize de Almeida e Gustavo Caldas para os cargos de procuradora e vice procurador-geral da Fazenda Nacional a partir de janeiro de 2023.
A perda de ímpeto em relação à votação das mudanças na Lei das Estatais, que ficou para o ano que vem, e o petróleo em alta favoreceram as ações da Petrobras, (PETR3, +2,28%; PETR4, +1,49%) e Banco do Brasil (BBAS3; +1,07%).
Na ponta negativa, as ações da Vale (VALE3; -0,036%), que têm forte peso na Bolsa, e de outras empresas de commodities metálicas fecharam em queda seguindo a baixa do minério de ferro em meio ao aumento de casos de covid na China.
O Ibovespa, principal índice da B3 fechou em alta de 1,83%, aos 104.739,75 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro avançou 2,09%, aos 106.835 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.
Rodrigo Cohen, analista da Escola de Investimentos avalia queo principal assunto foi o julgamento da inconstitucionalidade do orçamento secreto. “Na minha visão, [esse fato] faz com que o poder de barganha do governo diminua para a aprovação da PEC da transição e fez a bolsa acelerar ganhos hoje. Além disso, Gilmar Mendes aprovou a retirada do gasto com Bolsa Família do teto de gastos, o que não foi bem visto pelo mercado.”
Na visão do analista, os dados do Boletim Focus divulgado hoje mostraram ainda uma perspectiva de inflação menor para o fechamento do ano, o que favoreceu as varejistas com a queda dos juros. “Além disso, tivemos notícia de Klein saindo da presidência do conselho da Via, o que animou o mercado em virtude das brigas internas que prejudicaram muito a companhia nesses últimos tempos”, acrescenta Cohen.A ação subiu mais 16%.
O analista também aponta um movimento de correção em relação às aéreas com alta pontual após muitas quedas, mesmo com a greve de pilotos e comissários.
Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, a Bolsa está tendo um bom início de semana por que as medidas consideradas ruins para o cenário fiscal perderam a força, como a Lei das Estatais, que foi aprovada na Câmara na semana passada, mas não foi votada no Senado, e a PEC da Transição, que aparentemente enfrenta dificuldades para ser aprovada e deve ser desidratada.
“Os nomes indicados pelo Haddad, especialmente do Gabriel Galípolo [anunciado na última terça-feira como secretário-executivo do Ministério da Fazenda a partir de 2023] e de Guilherme Melo também agradaram o mercado”, avalia o analista, que também aponta como favorável o forte o rumor de que Felipe Salto deve ser o novo Secretário do Tesouro.
Secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo desde abril de 2022, Salto foi diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), no Senado Federal, trabalhou na assessoria do senador José Serra, com assuntos econômicos e fiscais e foi consultor econômico, com foco em macroeconomia, contas públicas e contas externas.
“O exterior dividido, com Estados Unidos em queda e Europa em alta, também ajuda, em uma semana com poucos indicadores relevantes previstos. “Não é uma semana com grandes acontecimentos, então isso faz com que os países negociem mais em torno de seus temas internos”, comenta.
Ubirajara Silva, gestor da Galápagos Capital, a semana será importante para definir a PEC da Transição, após uma sexta-feira ruim, após vencimento de opções sobre ações, com alta dos bancos e realização de lucros da Vale e queda de papéis ligados ao mercado interno, como varejo.”Hoje as notícias não estão muito positivas, então, o DI deve abrir um pouco mais, o que impacta as empresas mais alavancadas no crédito”, comentou Silva
Cynara Escobar / Agência CMA
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