O Banco Central Europeu (BCE) deve aumentar as taxas de juros pela primeira vez desde 2011 na reunião desta semana, com o objetivo de conter a disparada da inflação – que atingiu recorde de 8,6% em junho em base anual. Especialistas esperam um incremento de 25 pontos-base (pb), mas não descartam um aumento maior, por conta da fraqueza do euro.
Na última reunião de política monetária, que ocorreu em junho deste ano, a presidente do BCE, Christine Lagarde, sinalizou um aumento de 25 pb em julho e deixou a porta aberta para um aumento maior em setembro.
“Nós pensamos que um aumento maior [que 25 pb] neste ponto é improvável, mas não impensável”, dada à pressão dos membros mais agressivos do Conselho para tal, escreveram os estrategistas do Bank of America (BofA) em nota.
Os analistas do RoboBank vão na mesma linha. “Os desenvolvimentos recentes podem fazer os hawks [defensores de uma política monetária mais austera] tentarem dar um passo de 50 pb, mas ainda acreditamos que apenas 25 pb podem se materializar”, dizem.
Por outro lado, o crescente risco de recessão e de fragmentação da economia da zona do euro vem colocando os formuladores de política monetária diante de um dilema. Os mercados começaram a diminuir as expectativas para a escala do aperto monetário do BCE, e analistas dizem que a janela de oportunidade da instituição para subir as taxas pode fechar mais cedo do que o esperado.
“Mesmo que os hawks possam ter caso um pouco mais forte do que no mês passado, acreditamos que um aumento maior pode sair pela culatra enquanto as medidas antifragmentação do BCE permanecerem incertas”, avaliam os especialistas do RoboBank. Martin Wolburg, economista sênior da Generali Investments, diz que “mais de 25 pb, na situação atual, seriam vistos pelos mercados como um sinal muito agressivo”.
A queda do euro em relação ao dólar pela primeira vez em duas décadas também representa um problema para o BCE. Deixar a moeda cair agrava a inflação, mas uma postura mais agressiva para sustentar a moeda, ou aumentos mais rápidos das taxas, podem afetar o crescimento.
“Eles sabem que ficar preso nesse ciclo de tentar apoiar sua moeda por meio de ações do banco central é muito perigoso, pois você precisa apertar demais, prejudicando a economia e a moeda”, disse Andrew Mulliner, chefe de estratégias agregadas globais da Janus Henderson.
“Antes que o BCE finalize a ferramenta antifragmentação e comece a subir tanto quanto a maioria dos outros bancos centrais do G10, não esperaríamos que o euro encontre suporte. Também não esperamos intervenção cambial do BCE”, diz o Bank of America.
Com a crise do governo na Itália, aumentaram as expectativas para mais detalhes sobre a ferramenta, que deverá ser chamada de Mecanismo de Proteção de Transmissão. As principais questões a serem respondidas na quinta-feira são como definir um spread neutro ou economicamente justificado, o tamanho de tal ferramenta e o grau de condicionalidade.
“Acreditamos que a nova ferramenta antifragmentação virá com condicionalidade relativamente leve e sem um limite de compra, embora isso exija algum convencimento dos hawks. Para evitar interferência com o mandato de inflação, esperamos que as operações de drenagem de liquidez compensem eventuais compras”, diz o RoboBank.
As decisões do BCE desta semana não devem trazer muitas novidades para o mercado de ações. Como a instituição “age muito devagar e comunica antecipadamente os aumentos das taxas, os investidores estão preparados há muito tempo, o que vai contra grandes oscilações” nos mercados, observa Elmar Völker, analista do LBBW.
Larissa Bernardes / Agência CMA
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