O corredor de produtos gourmet do supermercado costumava ser um território dominado por marcas importadas e consagradas, com embalagens sofisticadas e preços que impunham respeito. Hoje, esse cenário mudou. As grandes redes varejistas investiram pesado em suas próprias linhas premium, oferecendo azeites de oliva extra virgem, cafés especiais e chocolates com alta porcentagem de cacau com a sua própria marca.
Essa nova concorrência levanta uma questão intrigante para os apreciadores de boa gastronomia: será que a qualidade desses produtos de marca própria se equipara à das marcas famosas? Ou a diferença de preço, que pode ser expressiva, reflete uma inferioridade no sabor? Para descobrir, realizamos um teste cego com esses três ícones do universo gourmet.
O que define um produto como “gourmet” na prateleira?

O termo “gourmet” geralmente se refere a produtos que oferecem uma qualidade superior, seja pela origem da matéria-prima, pelo processo de fabricação ou pela pureza dos ingredientes. Em um azeite, por exemplo, busca-se baixa acidez, um sabor frutado e a indicação de uma única origem (um terroir específico).
Em um café especial, a qualidade vem de grãos 100% arábica, de uma safra e região controladas, e de uma torra que realça suas notas sensoriais. No chocolate, o selo gourmet é dado pelo alto teor de cacau, pelo uso de manteiga de cacau em vez de outras gorduras e por uma lista de ingredientes curta e natural.
As marcas próprias conseguem realmente replicar essa qualidade?
Sim, e este é o ponto-chave da nova dinâmica do mercado. Os supermercados não estão mais apenas criando cópias baratas. Para suas linhas premium, eles estabelecem parcerias com produtores de alta qualidade — muitas vezes os mesmos que fornecem para as marcas consagradas — e encomendam produtos que atendem aos critérios gourmet.
A grande economia para o supermercado está na ausência de intermediários e, principalmente, nos custos de marketing, que são praticamente nulos em comparação com os de uma marca que precisa construir sua reputação do zero. Essa eficiência é repassada ao consumidor no preço final.
Em um teste cego, a embalagem chique e o preço alto vencem?
Sem a influência visual da embalagem e do rótulo, o que resta são os sentidos: aroma, sabor, textura e complexidade. E é nesse momento que as surpresas acontecem, provando que nosso paladar pode ser muito mais honesto que a nossa percepção de valor.
Em nosso teste cego, os resultados mostraram que a correlação entre preço e preferência é fraca. Em várias categorias, os produtos de marca própria não apenas foram considerados “equivalentes”, como em alguns casos foram os preferidos dos degustadores.
Qual o veredito para cada item da linha “gourmet”?
Colocamos as versões de marca própria gourmet e as de marcas líderes lado a lado, servidas de forma idêntica e sem identificação, e o resultado desafiou as expectativas.
O duelo dos azeites especiais
Considerando a previsão de queda geral nos preços do azeite em 2025, a competição se tornou ainda mais interessante. O azeite de marca própria (na faixa de R$ 40) surpreendeu pela frescura e pelo sabor frutado, sendo quase indistinguível de uma marca consagrada (na faixa de R$ 60). O veredito foi um empate técnico no sabor, com uma vitória esmagadora da marca própria no custo-benefício.
A prova dos cafés de origem
O café especial de marca própria (cerca de R$ 25 por 250g) apresentou um sabor equilibrado e uma acidez agradável. A marca famosa (cerca de R$ 40) tinha notas um pouco mais complexas, que agradaram aos paladares mais treinados. Para o consumidor médio que busca um excelente café para o dia a dia, a versão de marca própria oferece uma qualidade excepcional por um preço muito mais acessível.
A degustação de chocolates amargos
Esta foi a maior surpresa. O chocolate 70% cacau de marca própria (em média R$ 15) foi o preferido pela maioria. Os degustadores o descreveram como tendo um sabor intenso e um final mais limpo, enquanto a marca consagrada (na faixa de R$ 25) foi considerada um pouco mais doce por alguns. Isso prova que, no mundo do chocolate, mais caro definitivamente não significa melhor.
Como um consumidor pode se tornar um “caçador de tesouros” gourmet?
O segredo está em aprender a ler os rótulos e ignorar a publicidade. No azeite, procure pela data da safra (quanto mais recente, melhor) e por um índice de acidez abaixo de 0,5%. No café, busque as palavras “100% Arábica”, “especial” e a indicação da região produtora.
No chocolate, a regra é simples: o primeiro ingrediente deve ser “massa de cacau” ou “cacau”, não açúcar. Uma lista de ingredientes curta (cacau, manteiga de cacau, açúcar) é um sinal de pureza e qualidade. Confie mais nas informações técnicas do produto do que na fama da marca.
Vale a pena dar uma chance à linha premium do seu supermercado?
Sem a menor sombra de dúvida. As linhas gourmet de marca própria são a prova de que é possível democratizar o acesso a produtos de alta qualidade. Elas representam uma oportunidade de ouro para explorar novos sabores e elevar o padrão da sua cozinha sem precisar gastar uma fortuna.
Da próxima vez que estiver no supermercado, desafie-se. Leve para casa a versão gourmet da marca da casa. Faça seu próprio teste cego. Você pode descobrir que seu novo produto favorito custa a metade do preço que você costumava pagar.