Você caminha pelo corredor do supermercado tentando fazer escolhas melhores para sua saúde. As embalagens parecem aliadas: “Integral”, “Light”, “Fonte de Fibras”, “Zero Açúcar”. São tantos apelos saudáveis que fica fácil encher o carrinho acreditando que se está no caminho certo. Mas, na maioria das vezes, você pode estar sendo vítima do health washing, a “maquiagem saudável” da indústria alimentícia.
Trata-se de um conjunto de estratégias de marketing projetadas para fazer um produto ultraprocessado parecer nutritivo, desviando sua atenção do que realmente importa: a lista de ingredientes. Conhecer esses truques é a sua melhor defesa para não ser enganado e fazer escolhas verdadeiramente saudáveis.
A Mentira do ‘Integral’: quando o pão não é tão integral assim?

Este é talvez o truque mais comum nas prateleiras. A embalagem é rústica, em tons de marrom, cheia de sementes desenhadas e com a palavra “INTEGRAL” em destaque.
- O Truque: Ao virar a embalagem e ler a lista de ingredientes, a surpresa: o primeiro item é “farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico”, que nada mais é do que farinha branca. A farinha integral aparece apenas em segundo ou terceiro lugar, indicando que está presente em menor quantidade.
- A Regra de Ouro: A lista de ingredientes está sempre em ordem decrescente (o que vem primeiro, tem mais). Para um produto ser considerado verdadeiramente integral, o primeiro ingrediente da lista deve ser “farinha de trigo integral” ou a farinha integral de outro grão.
O Perigo do ‘Zero Açúcar’: o que entra no lugar?
A bandeira “Zero Açúcar” é poderosa e atrai muitos consumidores preocupados com a saúde e o peso.
- O Truque: O açúcar é, de fato, removido. No entanto, para manter o sabor doce, ele é substituído por um coquetel de adoçantes artificiais (como aspartame, sucralose, acessulfame-k). Pior: para compensar a textura e o paladar perdidos com a retirada do açúcar, a indústria frequentemente adiciona mais gordura, sódio e aditivos químicos.
- A Regra de Ouro: Um produto “zero açúcar” não é automaticamente saudável. Compare a lista de ingredientes com a da versão original. Muitas vezes, é preferível consumir o produto original com moderação do que uma versão “diet” ultraprocessada e cheia de químicos.
A Ilusão do ‘Light’: mais leve, mas não necessariamente melhor
O termo “light” tem uma definição legal: o produto precisa ter uma redução de, no mínimo, 25% em algum nutriente (como gordura, sódio ou calorias) em comparação com sua versão tradicional. Mas isso não o torna saudável.
- O Truque: Uma maionese “light” pode ter menos gordura, mas para manter a cremosidade, a indústria adiciona amido modificado, mais sódio e espessantes. Você troca a gordura por outros aditivos que não são ideais para a saúde. Um salgadinho “light” ainda é um salgadinho frito.
- A Regra de Ouro: “Light” não é sinônimo de “saudável” ou “liberado”. É apenas uma versão com um perfil nutricional diferente do original, e que muitas vezes continua sendo um ultraprocessado.
A ‘Fortificação’ Falsa: o cereal rico em vitaminas (e açúcar)
Essa tática é muito comum em produtos voltados para o público infantil.
- O Truque: A caixa do cereal matinal ou do biscoito estampa em letras garrafais: “Fonte de 7 vitaminas e 2 minerais!”. Isso cria uma aura saudável e desvia a atenção do que realmente compõe o produto: açúcar e farinha refinada. As vitaminas adicionadas são sintéticas e servem como uma “maquiagem” para um produto nutricionalmente pobre.
- A Regra de Ouro: Vitaminas e minerais devem vir de fontes naturais. Se um produto precisa ser artificialmente enriquecido, é um sinal de que sua base é pobre. Uma fruta de verdade sempre será superior a um ultraprocessado “vitaminado”.
A Ferramenta do Consumidor: como a ‘lupa’ no rótulo pode te salvar?
Felizmente, a legislação brasileira evoluiu. A nova rotulagem nutricional frontal é a sua maior aliada contra a “maquiagem verde”.
- O Antídoto Final: Procure pelo símbolo de uma lupa na parte da frente e superior da embalagem. Este é um aviso obrigatório e direto, que indica “ALTO EM AÇÚCAR ADICIONADO”, “ALTO EM GORDURA SATURADA” ou “ALTO EM SÓDIO”.
- A Dica de Ouro: A lupa não mente e não tem marketing. Se um produto que se diz “saudável” ou “fit” carrega um ou mais desses alertas, desconfie. A verdade está no aviso, não na promessa da embalagem.
O marketing da indústria alimentícia é poderoso, mas o consumidor informado é ainda mais. Ao aprender a ignorar as alegações da parte da frente da caixa e focar na lista de ingredientes e nos alertas da lupa, você retoma o controle da sua saúde e da sua alimentação.