A guerra entre Israel e a Palestina é, agora, mais uma das preocupações que podem impactar negativamente o lobby das criptomoedas nos Estados Unidos, diz relatório da Berenberg Capital Markets.
Na semana passada, conforme o Financial Times, as autoridades israelenses fecharam e apreenderam mais de 100 contas da Binance e de outras corretoras de criptomoedas por financiarem o Hamas.
Mas o que isso tem a ver com os Estados Unidos?
Por lá, estão acontecendo várias conversas com o Congresso e com a SEC (órgão regulador, que seria como a CVM americana), sobre a regulação do mercado de criptoativos.
No ano passado e no começo desse ano, diversas exchanges desses ativos se envolveram em polêmicas junto a entidade de valores imobiliários, tanto pela variação das cotas, tanto por financiar o terrorismo.
As gigantes dos investimentos, BlackRock e MSCI, por exemplo, estão sendo investigadas por um comitê especial da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, por facilitar investimentos em empresas chinesas sob alertas das agências de análise de risco do país.
No meio de tantos entraves, a BlackRock e a Fidelity seguem tentando emplacar os seus ETFs de bitcoin. A SEC vê os pedidos como inadequados — apontando que seus registros não são suficientemente claros e nem abrangentes.
Inclusive, nesta segunda-feira (18), os boatos (já desmentidos) de que a SEC teria autorizado o ETF da BlackRock causaram uma alta que chegou a 8%.
O Hamas e o lobby cripto
Apesar de não ser considerado um grupo terrorista pela ONU (e pelo Brasil), os Estados Unidos adotam essa classificação para o Hamas – e a notícia de que as criptomoedas financiando seus ataques devem balançar o lobby das criptos.
A análise da Berenberg Capital Markets, liderada por Mark Palmer, afirma que os motivos da “postura cautelosa” em relação à Coinbase são, além das várias ações regulatórias que estão sendo movidas contra as exchanges nos Estados Unidos, os contratempos políticos que nascem do conflito Israel-Hamas.
“Embora o Hamas tenha anunciado em abril que não usaria mais criptomoedas para arrecadação de fundos devido à possibilidade de que as autoridades rastreassem seus movimentos em redes blockchain, acreditamos que as manchetes recentes provavelmente tornarão a clareza em torno da questão do status legal das criptomoedas ainda mais elusiva”, escreveu Palmer.
O relatório cita nominalmente a Coinbase por ser uma das maiores investidoras nas campanhas de lobby para uma regulamentação das criptomoedas no país, mas esta pode ser uma questão para todo o mercado.
O financiamento ao terrorismo é uma das principais questões relacionadas a regulação das criptomoedas, pela dificuldade de rastreamento existente na blockchain — onde estão hospedados esses ativos.
Como o Hamas é considerado um grupo terrorista nos Estados Unidos – e a guerra tem, hoje, um poder inflamatório nas questões políticas –, o uso das criptomoedas pelo grupo pode ser mais um entrave no debate regulatório por lá.
O relatório tem recomendação equivalente à neutra para as ações da corretora, com preço alvo a US$ 39. Hoje, seus BDRs operam a R$ 15,24 na B3, às 12h.