A Vale anunciou hoje (17) o lançamento oficial da Agera, empresa para vender areia obtida a partir dos rejeitos do minério de ferro em Minas Gerais. A companhia está em funcionamento há cerca de um ano, sob o nome provisório de Co-Log.
De acordo com informações da Reuters, a expectativa é que até o fim de 2023, a sejam totalizadas venda 1 milhão de toneladas de “areia sustentável”, gerando um faturamento de R$ 18 milhões. Para 2024, a projeção é de 2,1 milhões de toneladas.
Só em 2022, a Vale produziu 47 milhões de toneladas de rejeitos. O rompimento de barragens de rejeitos, justamente em minas controladas pela Vale, é a causa por desastres de grandes proporções no Brasil.
Atualmente, a empresa atende mais de 80 unidades fabris em sete segmentos industriais, incluindo concreteiras, pré-moldados, argamassa, artefatos, cimenteiras, tintas texturizadas e pavimentos.
Rejeitos e desastres
A atividade de extração de minério de ferro exige a separação do material valioso (o que se vende) do que não tem valor comercial. Nessa separação, o material que não vai ser utilizado (chamado rejeito) tem que ser, conforme a legislação ambiental, armazenado em reservatório, para não causar danos. As estruturas que servem de reservatório são feitas de terra compactada e recebem o nome de barragem.
No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho (MG), se rompeu, causando a morte de 272 pessoas e espalhando resíduos de minério pela bacia do Rio Paraopeba.
A tragédia ocorreu quatro anos depois de outra barragem de rejeitos ter se rompido, em Mariana (MG), levando à morte de 19 pessoas. O empreendimento pertencia à Samarco, empresa controlada pela Vale e pela BHP Billiton Brasil.
O colapso da estrutura em 2015 ocasionou o extravasamento imediato de aproximadamente 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro e sílica, entre outros particulados. Outros 16 milhões de metros cúbicos continuaram escoando lentamente. O material logo formou uma grande onda de rejeitos.
Segundo o Ministério Público Federal, em sua rota de destruição, como uma avalanche de grandes proporções, com alta velocidade e energia, a onda de rejeitos atingiu o Córrego de Fundão e o Córrego Santarém, destruindo suas calhas e seus cursos naturais. Em seguida, soterrou grande parte do subdistrito de Bento Rodrigues, localizado a 6 km da barragem de Santarém, matando 19 pessoas e desalojando várias famílias.
“Mineração circular” e a estratégia da Vale
Segundo a mineradora, cerca de 330 milhões de toneladas de areia são usadas anualmente na construção civil e em processos industriais no Brasil.
A criação da Agera está alinhada à estratégia da Vale em promover a mineração circular. A empresa diz buscar soluções sustentáveis para o reaproveitamento de rejeitos, contribuindo para a redução do uso de barragens em Minas Gerais e substituindo a areia natural, frequentemente extraída de forma predatória dos leitos de rios.
Como é produzida a “areia sustentável”?
O processamento a úmido do minério de ferro, usado em menos de 30% da produção da Vale, gera rejeitos, que podem ser dispostos em barragens ou em pilhas. Esses rejeitos são compostos basicamente de sílica, principal componente da areia, e óxidos de ferro. É um material não tóxico, que em seu processamento é submetido apenas a processos físicos.
A produção da “areia sustentável” começou em 2021, na mina de Brucutu, em São Gonçalo do Rio Abaixo, após sete anos de pesquisa. Até agora, cerca de 900 mil toneladas foram destinadas à construção civil e pavimentação rodoviária.
A produção foi expandida para a mina de Viga, em Congonhas, no ano passado, e nos próximos meses, iniciará na mina de Cauê, em Itabira.
Estudo conduzido pelas Universidades de Queensland e Genebra em 2022, reforça que a “areia sustentável” pode atenuar a extração predatória de areia e reduzir os rejeitos de mineração. A pesquisa recebeu apoio financeiro da Vale, que cedeu amostras do produto.
Destinação dos rejeitos
No ano passado, a Vale inaugurou a primeira estrado do Brasil com quatro camadas de “areia sustentável”, localizada em Itabira. Testes em laboratório indicam aumento de 50% na vida útil do pavimento e redução de custos em 20% em comparação com materiais convencionais. Além disso, cada quilômetro de pavimento pode consumir até 7 mil toneladas de rejeito.
Os testes são realizados em uma estrada de 425 metros em Itabira. A pista será monitorada até o ano que vem, com 96 sensores. O estudo tem parceria da Universidade Federal de Itajubá (campus Itabira) e da Coppe-UFRJ.
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