A varejista Americanas enfrenta um desafio monumental para manter seus negócios em meio aos esforços para aprovar seu plano de recuperação judicial. De acordo com um relatório divulgado pelo administrador judicial do processo de recuperação, a empresa encerrou agosto com 42,9 milhões de clientes ativos, o que representa uma queda constante de 13% em oito meses. Este declínio começou após a revelação de um rombo nos balanços da empresa, que teve início em dezembro do ano passado, quando contava com 49,1 milhões de clientes.
O escândalo, revelado em janeiro, resultou de uma fraude contábil de mais de R$ 20 bilhões, atualmente sob investigação pela empresa, pela Justiça e por órgãos reguladores. Isso gerou uma dívida declarada de R$ 43 bilhões, que está em negociação com bancos e outros credores.
Receita digital despenca 91%
As vendas digitais representam o maior problema para a Americanas, com uma queda notável de 91% na receita digital desde dezembro, quando registraram R$ 1,24 bilhão em receita bruta. Em agosto, esse número despencou para R$ 112 milhões. Mesmo quando comparada ao mesmo período do ano passado para eliminar o impacto sazonal, a receita ainda sofreu uma queda impressionante de 85%. Em agosto de 2020, a receita bruta digital alcançou R$ 746,7 milhões.
Em contraste, a receita total da empresa, que inclui as lojas físicas, apresentou uma queda menos acentuada, passando de R$ 3,13 bilhões em dezembro de 2022 para R$ 1,33 bilhão em agosto de 2023, uma redução de quase 50%. Ano a ano, a queda foi de 26%, comparada a R$ 1,8 bilhão em agosto de 2022.
Isso ocorreu porque, ao contrário da queda nas vendas online, a receita bruta das lojas físicas teve uma recuperação gradual nos últimos meses. Em dezembro, atingiu R$ 1,88 bilhão, caindo para o ponto mais baixo em fevereiro, com R$ 944 milhões, antes de se recuperar novamente para R$ 1,05 bilhão em agosto. Até agosto deste ano, foram fechadas 88 unidades, deixando a rede com 1.794 lojas, ainda um número expressivo.
Plano de recuperação em andamento
A Americanas continua focada em seu processo de recuperação judicial e em um plano de transformação para garantir a rentabilidade e sustentabilidade de suas operações. Isso inclui a gestão eficiente do espaço em lojas e o fechamento de unidades, fazendo parte de um plano de reestruturação em diversas frentes, como a reavaliação do mix de produtos e a adequação de estoques à demanda local.
As dificuldades operacionais que resultaram na perda de vendas são diversas e têm várias causas, incluindo a estratégia de preços baixos na loja online, que não tem atraído consumidores, principalmente devido à preocupação reputacional após o escândalo.
Desafios no ambiente digital
Outro desafio enfrentado pela Americanas no ambiente digital é a redução do tráfego para o site da empresa. Cerca de metade desse tráfego era obtido por meio de anúncios nas buscas do Google. Com recursos limitados, a empresa deixou de investir nessa estratégia, o que impactou a visibilidade online.
Além disso, a empresa adotou várias estratégias para cortar custos, como a compra de produtos sem estoque, reduzindo os custos logísticos. Algumas categorias de produtos, como computadores pessoais, sofreram uma queda nas vendas de cerca de 99% no último trimestre em comparação com o último trimestre de 2022. Isso resultou na perda de relevância em algumas categorias de produtos em benefício de concorrentes, como a Amazon e o Mercado Livre.
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