A greve dos empregados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) nesta terça-feira (3) se opõe à privatização, encaminhada pelo governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nos fatores de risco apresentados pela companhia a seus investidores, entretanto, a Sabesp previu que seus resultados pudessem ser afetados por protestos contra outro político: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O documento, atualizado pela última vez no dia 31 de agosto, traz uma lista de “fatores de risco” que possam ter algum efeito adverso no preço das ações da companhia. Entre os diversos pontos listados estão “protestos e greves” contra mudanças promovidas pelo governo federal petista.
Veja o trecho:
“Em outubro de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil para um mandato de quatro anos iniciado em 2023. As incertezas com relação à capacidade do novo governo de implementar as mudanças relacionadas às políticas monetária, fiscal e previdenciária, especificamente ao se considerar que o legislativo é controlado por partidos de oposição, assim como o clima político depois das eleições, incluindo protestos e greves, poderão contribuir para a instabilidade econômica. Essas incertezas e quaisquer novas medidas que o novo governo possa implementar poderão aumentar a volatilidade do mercado de valores mobiliários brasileiro.”
A listagem de “fatores de risco” faz parte do Formulário de Referência, que precisa ser entregue à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por todas as empresas com ações na Bolsa de Valores.
Apenas a parte relacionada a fatores de risco possui 32 páginas e apenas 2 citações da palavra “greve”. Além do trecho copiado acima, a Sabesp cita, de forma genérica, que greves ou bloqueios em estradas podem afetar a capacidade de seus fornecedores entregarem produtos ou prestarem serviços a ela.
Vale notar que o efeito da greve desta terça nas ações da Sabesp (#SBSP3) foi mínimo, registrando queda de menos de 0,5% entre 10h e 15h30. A empresa se prepara para sair do controle do governo já no ano que vem.
O sindicato que organiza a greve da Sabesp, Sintaema (Sindicato dos trabalhadores em água, esgoto e meio ambiente do estado de São Paulo), afirma que a privatização é um movimento desnecessário. Ele aponta que a empresa é financeiramente saudável e responsável por cerca de R$ 40 bilhões em investimentos no setor de saneamento somente em São Paulo – um terço do que é investido em todo Brasil.
Em resposta à greve, o governo de São Paulo acusou os sindicatos ligados à Sabesp e ao Metrô de chantagearem a população do estado para criar oposição às privatizações. “O programa estadual de parcerias, concessões e desestatizações visa a melhoria na prestação dos serviços públicos aos cidadãos e está totalmente amparado pelas leis brasileiras. Assim, ao chantagear a população com greves ilegais, os sindicatos atentam não só contra a legislação vigente, mas também à ordem pública e ao aprimoramento das políticas públicas. (…) Os servidores da Sabesp, do Metrô e da CPTM merecem líderes sindicais que priorizem o respeito à legalidade e o atendimento à população”, diz a nota.
*Imagem: Marcello Camargo/Agência Brasil