Quem começa a se interessar pelo mundo dos investimentos costuma procurar ações de suas marcas favoritas, Nintendo, Nike, Google, Coca-Cola…
Ao pensar uma empresa grande, por exemplo, a Lego, você imaginaria que teria uma negociação de ações, mas a verdade é que as aberturas de capitais estão cada vez mais escassas.
Aqui no Brasil, as gigantes Novonor (ex-Odebrecht), a Votorantim e a Aurora são exemplos de empresas que mantêm seu capital fechado. O problema, é que não só as empresas estão deixando de fazer IPOs (abertura de capital), mas também elas estão saindo da Bolsa.
Em 2023 até julho, foram cinco pedidos de “demissão da Bolsa” registrados por meio de OPA (Oferta Pública de Aquisição). Esse é o maior número em quatro anos.
EDP Energias do Brasil, Banco Besa, Longdis, Gradiente e Renauxview requisitaram a saída da B3.
Para o presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), João Pedro Nascimento, reduzir a burocracia vai ajudar novas empresas a buscarem a abertura de capital.
Nascimento discursou no congresso Capital Conecta, organizado pela Ancord (Associação Nacional das Corretoras de Valores) e pela Apimec Brasil (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil), nesta terça-feira (26).
As resoluções 160 e 161 da CVM “trouxeram uma liberdade e flexibilidade tamanha, mas quando a gente olha para o volume de ofertas públicas parece que o mercado não aproveitou tão bem”, disse Priscilla Sorrentino, Gerente Executiva do Núcleo de Ações Investigativas e Sancionadoras de Supervisão da Anbima.
O diagnóstico de Priscila se confirma. Desde agosto de 2021, não houve nenhuma nova abertura de capital na Bolsa brasileira e, segundo o Valor Data, das 73 empresas que estrearam de 2020 até ali, só 18 estão no azul.
Para ela, as instituições seguem buscando maneiras de facilitar e flexibilizar a abertura de capital e a entrada de pessoas físicas na Bolsa, mas a ausência de crédito (em razão das altas taxas de juros) é o diagnóstico para a falta de engajamento.
Falta de crédito significa falta de investimentos, tanto das empresas quanto das pessoas físicas. Se tem pouco dinheiro circulando, você vai guardá-lo para gastar em atividades essenciais e não em caminhos risco.
A verdade é que, com tantas incertezas cercando o mercado, por que apostar em abrir capital se as experiências recentes mostram que o mercado não está apostando?
Talvez seja por isso que sua marca favorita não esteja na Bolsa e talvez, como a Lego, seja uma empresa familiar que não quer criar oportunidade para uma tomada de controle. Talvez sua marca favorita seja muito pequena e aqui no Brasil não há tanto espaço na Bolsa para negócios menores, apesar da CVM estar planejando melhorar este cenário.
Mas, o cenário ainda pode mudar. A expectativa da CVM e da Anbima é que novos IPOs aconteçam até o fim do ano.
Imagem: divulgação