O dólar comercial fechou com ligeira queda de 0,04% no mercado à vista, cotado a R$ 4,9640 para venda, abaixo do nível de R$ 5,00 pelo segundo pregão seguido após mais de um ano, em sessão de forte volatilidade da moeda norte-americana aqui e no exterior, com investidores ainda reagindo às falas do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, e perto do encerramento, do do presidente da unidade da autoridade monetária de Atlanta, Raphael Bostic, que vê uma alta da taxa de juros no país no fim do ano que vem.
“O dólar operou bastante volátil na sessão diante da perspectiva de uma política monetária mais contracionista no Brasil e mais moderada nos Estados Unidos, com investidores ainda digerindo o discurso de ontem do Powell”, comenta a analista da Toro Investimentos, Paloma Brum.
Ela acrescenta que as falas de dirigentes do Fed à tarde, como a de Bostic, levaram o mercado a reagir, já que ele – que tem direito a voto no Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) este ano – vê que a “inflação temporária” pode durar mais tempo do que o previsto pelo Fed. “Na minha visão, isso mostra que os dirigentes do BC norte-americano já começam a vislumbrar que a alta na inflação consiste em algo de fato persistente e não temporário como defendem até então”, avalia.
Brum reforça que Bostic antecipou a previsão para o início do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos, prevendo uma elevação da taxa básica de juros no fim de 2022 e outras duas em 2023. Na semana passada, o presidente da unidade do Fed de Saint Louis, James Bullard, também disse que via uma alta da taxa de juros no fim do ano que vem, o que agitou os mercados.
Para o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, o tom mais duro (“hawkish”) da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) ontem e as manifestações de membros do Fomc deixaram “muita volatilidade no ar”, refletindo ao longo da sessão. “O real voltou a perder um pouco, mas o caminho, no curto prazo, será para baixo. Sem exagero, olhai as condições do mercado na medida em que o ano avança”, pondera. O dólar acumula queda de mais de 4% frente ao real em 2021.
Amanhã, com a agenda de indicadores esvaziada, a analista da Toro diz que o mercado ainda pode precificar os tons dos bancos centrais, além das atenções se voltarem às declarações de outros dirigentes do Fed. A terceira leitura do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano no primeiro trimestre, se muito diferente das anteriores, poderá fazer preço.
Flávya Pereira / Agência CMA
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