O terceiro trimestre deste ano se apresenta como uma nova janela para as ofertas iniciais de ações no mercado brasileiro, os chamados IPOs. Para analistas, contribuem para o cenário positivo o bom nível de liquidez no mercado e um cenário de juros ainda propício para os investimentos em ações.
O ano de 2020 teve 28 IPOs no Brasil, o maior número desde 2007, quando foram realizados 64 lançamentos. O sócio-diretor do Grupo IRKO, Eduardo Luque, ressalta que há uma diferença no perfil das companhias que abriram capital há 14 anos e as de agora: as da geração 2020 são de menor porte e têm uma atuação em segmentos mais diversos.
A tendência de aquecimento no mercado de ações vem se mantendo em 2021 – foram 24 IPOs realizados até o mês de maio. Além disso, há ao menos outras 34 empresas na fila para também estrear na B3.
Em abril, no entanto, a piora da pandemia e a queda do apetite dos investidores por risco reduziram o ritmo de estreias na Bolsa. Assim, muitas empresas decidiram adiar seus IPOs, diante da exigência do mercado por descontos maiores nos preços das ações. Agora, quem observa o mercado prevê uma nova janela de oportunidade para a captação de recursos.
“O cenário para IPOs no país continua muito positivo, inclusive para empresas de menor porte. O que temos visto é que há demanda no mercado de capitais mesmo por companhias com faturamento abaixo dos R$ 300 milhões, desde que haja expectativa de grande rentabilidade futura”, afirma Judith Piza Varandas, sócia da Setter.
“Existem empresas com boas teses para captar no mercado, visando à sustentação de seu crescimento e à geração de novos negócios”, avalia Luque. “Além disso, mesmo com a perspectiva de alta da Selic, os juros ainda permanecem em um patamar que favorece o investimento em ações, em detrimento da renda fixa.”
O sócio-diretor da IRKO lembra ainda os dados positivos sobre o desempenho da economia, divulgados no início do mês – o PIB brasileiro cresceu 1,2% no primeiro trimestre, acima das expectativas do mercado.
Para Varandas, a efervescência do mercado de tecnologia, que não dá sinais de arrefecimento, também estimula o movimento. “São empresas que conseguem ganhar tração rápido, num horizonte de cinco anos, e passam a enxergar o IPO como uma maneira de fazer o exit – o ponto de saída, quando os investidores embolsam os ganhos”, afirma. Ela destaca as startups dos setores financeiro (fintechs), saúde (healthtechs), varejo (retailtechs) e jurídico (lawtechs).
Também contribui para esse cenário uma tendência clara de consolidação em alguns mercados, de acordo com os analistas. Neste contexto, eles citam ainda os setores de saúde, infraestrutura e varejo.
“Outro movimento que merece destaque é o ESG (sigla para as melhores práticas ambientais, sociais e de governança). As empresas que trazem ao mercado teses que incluam este conceito vêm recebendo rapidamente o sinal verde dos investidores, tais como empresas voltadas a fontes de energia renováveis”, diz Varandas.
E, para as companhias que, ainda assim, decidirem adiar a estreia na bolsa, Eduardo Luque sugere outras alternativas para financiar a expansão. “Ainda existe a possibilidade de emitir dívida de crédito privado para a captação de recursos, considerando o atual patamar de liquidez do mercado”, diz.
*Imagem em destaque: Piqsels.com