O dólar comercial fechou em alta de 0,35% no mercado à vista, cotado a R$ 5,0600 para venda, em sessão de forte volatilidade em meio à decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que revisou a previsão de elevação de juros do país, para 2023. As revisões para cima dos números para o
crescimento econômico dos Estados Unidos e para a inflação este ano e em 2022 resultaram em fortalecimento global da moeda norte-americana e no avanço dos
rendimentos das taxas futuras dos títulos do governo norte-americano, as treasuries.
O CIO e sócio da TAG Investimentos, Dan Kawa, ressalta que o mercado reagiu de forma mais negativa à decisão com a alteração do “timing de normalização monetária”, no qual o Fed indicou que poderá promover duas altas de juros em 2023. “Acho normal diante do nível de preços atuais e da rodada recente de apreciação [dos ativos], mas acho que parte dessa mudança do Fed já deveria ser esperada diante dos dados recentes”, avalia.
Para a equipe econômica da XP, a decisão mais “hawkish” (dura) do Fed, na qual projetou duas altas de juros até o fim de 2023 e elevou as projeções para a inflação do país neste ano de 2,4% para 3,4%, fez o dólar disparar globalmente, em conjunto com o avanço das treasuries, com o vencimento de 10 anos (T-Note) saindo de 1,48% para 1,58%.
O economista da Nova Futura Investimentos, Matheus Jaconeli, acrescenta que, mesmo com a autoridade monetária afirmando que manterá estímulos monetários e ainda assim, revisando para a inflação para cima, o presidente do Fed, Jerome Powell, comentou que a instituição poderá reagir à pressão inflacionária. “O mercado ficou cauteloso com a sinalização de que eles podem atuar, não necessariamente em alta de juros, mas com a retirada de estímulos, como a compra de títulos. Isso refletiu negativamente nos ativos globais”, ressalta.
Antes da divulgação do comunicado do Fed, o real “viveu um dia de glória” ao romper o nível psicológico que perdurava há alguns dias ao redor de R$ 5,02. A moeda renovou mínimas sucessivas e chegou a R$ 4,99, no menor valor intraday desde 10 de junho de 2020.
“Foi um fluxo de ingresso de recursos estrangeiros no país pesado, associado às vendas de exportadores e ainda, um robusto desmonte de posições compradas, liquidadas por ordens de stop-loss [perda máxima aceitável]”, explica o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.
Daqui a pouco, sai a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) com aposta majoritária de alta da taxa Selic em 0,75 ponto percentual (pp), a terceira seguida. Para o sócio da Aplix Investimentos, Yuri Veras Cavalcante, a decisão do Fed não deverá interferir no comunicado do Copom.
“O BC está reunido desde ontem, então, o Fed não deve interferir aqui. Se a decisão do Copom vier em linha com o esperado pelo mercado, pode ser que a gente veja uma pequena vantagem, uma vez nós estaremos direcionando um pouco mais a inflação do que os Estados Unidos neste momento”, destaca. Para os analistas, com a agenda de indicadores mais enfraquecida, os ativos reagirão ao Copom e ainda, às novas leituras em relação à política monetária do Fed.
Flávya Pereira / Agência CMA
Copyright 2021 – Grupo CMA
Imagem em destaque: Unsplash.com