A Warren Rena espera o Copom – Comitê de Política Monetária do Banco Central – inicie o ciclo de flexibilização monetária com uma redução de 0,25 ponto percentual da taxa Selic para 13,50% na reunião que inicia hoje e que terá a decisão anunciada amanhã. Mas a Warren reconhece que a probabilidade de um corte de 0,50 ponto é relevante. “Consideramos que há espaço para o início do ciclo de relaxamento monetário, tendo em vista principalmente o recuo das expectativas de inflação (com consequente efeito baixista sobre as projeções do BC) e a continuidade do processo de desaceleração dos núcleos”, avalia Sérgio Goldenstein, Estrategista-chefe da Warren Rena.
No entanto, a Warren acredita que há chance maior de uma redução de 0,25 p.p, tendo em vista principalmente aos seguintes fatores: (i) as projeções de inflação do BC no cenário de referência não devem ficar abaixo da meta de 3,0%; (ii) o processo de reancoragem das expectativas foi apenas parcial; (iii) a inflação de serviços ainda se mostra resiliente e os dados robustos de mercado de trabalho podem limitar um processo de desinflação mais rápido; e (iv) um ajuste inicial de -0,25 p.p. seria bem mais coerente com a clara sinalização anterior do Comitê de cautela e parcimônia na condução da política monetária e conteria um “excesso de otimismo” no mercado de juros.
Segundo o estrategista, a decisão do CMN em manter a meta em 3,0% foi fundamental para diminuir a desancoragem das expectativas longas, que representa um dos pontos de maior desconforto para o Copom. Enquanto, no período anterior à reunião de junho, as medianas para 2025 e 2026 tinham recuado 20 bps (de 4,0% para 3,8%), agora observou-se declínio adicional de 30 bps (para 3,5%). “A propósito, a ata de junho havia avaliado que decisões que reancorem as expectativas podem levar a uma desinflação mais célere. No entanto, vale assinalar uma maior rigidez nas últimas semanas, com as expectativas ainda apresentando um desvio em relação à meta, de 89 bps para 2024 e de 50 bps para 2025 e 2026”, completa.
Se, por um lado, o balanço de riscos se tornou um pouco mais favorável devido à decisão do CMN, por outro lado, ainda não é suficiente para que o Comitê se afaste da avaliação da última reunião de que a “conjuntura, marcada por expectativas desancoradas para prazos mais longos e caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, requer parcimônia e cautela na condução da política monetária”.
Além disso, o que antes era elencado como risco baixista, uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local, agora pode ser enquadrado como um risco altista, em razão principalmente a defasagem expressiva do preço da gasolina. “Vale ainda lembrar que, apesar de os dados do IPCA-15 de julho terem revelado uma abertura mais benigna, o IPCA de junho havia mostrado um comportamento da inflação de serviços pior do que o esperado. O mercado de trabalho apertado (a taxa de desemprego no 2º trimestre ficou em 8,0%, a menor para o período desde 2014) pode levar a uma alteração do cenário prospectivo do hiato do produto, com uma abertura ainda mais lenta do hiato e, consequentemente, uma maior resiliência da inflação de serviços”, completa.
Segundo Goldenstein, vale lembrar que, na reunião anterior, observou-se divergência no Comitê em torno do grau de sinalização em relação aos próximos passos. A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso poderia permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião, enquanto outro grupo se mostrou mais cauteloso. Destaque-se que, no passado, o termo “parcimônia” foi associado a um ajuste de 25 bps da taxa Selic. “Um ritmo inicial de -50 bps provavelmente levaria o mercado a precificar uma probabilidade maior de aceleração para um ritmo mais intenso (75 ou 100 bps) nas próximas reuniões, o que poderia atrapalhar o processo de reancoragem das expectativas e levar a uma queda mais forte do juro real de 1 ano”, disse.
Portanto, a Warren espera que o BC comece com um corte de 25 bps em agosto e acelere para 50 bps nas reuniões subsequentes do ano, com a Selic fechando 2023 em 12% e 2024 em 9,50%. “A aceleração para 50 bps a partir de setembro estaria em linha com o Focus e fundamentada na nossa expectativa de continuidade da desinflação dos núcleos e serviços. Não descartamos, contudo, que a opção seja por 50 bps já em agosto caso o Comitê avalie que houve uma melhora do balanço de riscos acima do esperado e/ou que um ajuste menor seria incongruente com o atual patamar da taxa Selic. Nesse caso, seria provável uma forte sinalização de que esse ritmo seria seguido nas próximas reuniões”, concluiu.
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