A nova campanha publicitária da Volkswagen, na qual Elis Regina (morta em 1982) contracena com sua filha, Maria Rita (veja abaixo), traz à discussão a capacidade das ferramentas de inteligência artificial substituírem artistas — indo muito além das suas já conhecidas funções técnicas, como escrever textos ou organizar planilhas.
Os hoje chamados de “criadores de conteúdo” têm competido contra robôs que conseguem também atuar no campo criativo, como na geração de imagens, vozes e até mesmo músicas.
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A substituição dos artistas pela tecnologia gerou polêmica nas redes sociais na última quinta-feira (29), quando o YouTuber Felipe Castanhari publicou, no Twitter, um vídeo demonstrando o uso da inteligência artificial para dublá-lo em outro idioma.
O vídeo foi feito pelo editor Davi de Oliveira, que mencionou que precisou “treinar” a inteligência artificial para que ela tivesse a voz do influenciador. “Esse vídeo não foi feito apertando só um botão, foram noites e noites viradas estudando (…), então não foi só um app que instalei no celular”, explicou.
O post chegou a 2,5 milhões de visualizações, e levantou questões sobre como profissionais de voz podem ser substituídos pela inteligência artificial. Quem trabalha com dublagem ou canto já começou a se preocupar em como o recurso pode se aperfeiçoar.
Apesar da discussão sobre o trabalho de programar esta ferramenta, outros aplicativos executam o serviço de dublagem sem exigir qualquer conhecimento técnico. Um exemplo é o Fliki, que consegue criar vídeos com narrações com base apenas em um texto enviado pelo usuário.
Quem ouve, sente falta da entonação humana, como a de um dublador real, mas os profissionais do ramo já sentem-se ameaçados pela tecnologia, uma vez que o recurso tem sido aperfeiçoado.
Uma reportagem do Financial Times, publicada no último sábado (1), expôs o uso da voz de dubladores reais em IA sem autorização dos artistas. Um caso foi o de Greg Marston, dublador britânico, que teve sua voz utilizada na ferramenta IA Revoicer.
Em 2005, Marston assinou um contrato com a IBM, para um projeto envolvendo gravações de sua voz para um sistema de GPS. No contrato de 18 anos, ele concedeu permanentemente os direitos de sua voz — em um período anterior à existência da IA generativa.
Agora, a IBM possui uma licença para comercializar a voz do artista a terceiros, que podem utilizar a inteligência artificial para cloná-la e vendê-la para diversos fins comerciais. Ou seja: há uma infinidade de usos para a voz de Marston, inimagináveis na época do contrato.
Mathilde Pavis, advogada do artista, mencionou que o dublador assinou o documento, mas não havia acordo para que sua voz fosse clonada por uma tecnologia imprevista 20 anos depois. “Ele está trabalhando no mesmo mercado, ainda vendendo sua voz para viver, e agora está competindo consigo mesmo”, argumenta.
Imagem: Reprodução