Com o retorno do seu fundador, Guilherme Paulus, a CVC (CVCB3) deve demitir cerca de 200 funcionários, na próxima segunda-feira (3). Segundo a reportagem de Lauro Jardim no O Globo, os cortes devem ocorrer em todos os níveis.
Devem ser enxugadas as áreas de marketing digital, produtos digitais, auditoria, compliance, contabilidade, produtos, programa de fidelidade e gestão de crédito.
Nos próximos dias também deve ser convocada uma Assembleia Geral Extraordinária, para indicação dos novos integrantes do conselho de administração da companhia.
Além disso, semana passada a empresa ainda passou por um aumento de capital, Paulus aumentou sua aposta na operadora de turismo comprando R$ 100 milhões em ações.
Os papéis da oferta de ações (follow-on) da empresa foram negociados a R$ 3,30.
Succession à brasileira?
De acordo com o CEO do Monitor do Mercado, Marcos de Vasconcellos, a volta da família Paulus à CVC faz o investidor lembrar da série “Succession”, da HBO, que virou um fenômeno de popularidade após o seu fim, no último mês.
Filtrando os dramas dos personagens e suas perversões, resta uma longa discussão sobre a sucessão de empresas familiares e um questionamento importante: quais dos nossos investimentos estão sujeitos a questões pessoais e das famílias de seus controladores?
Em 2010, a família Paulus vendeu o controle da companhia para um fundo internacional, pela bagatela de R$ 700 milhões, segundo notícias da época. Atualizado pela inflação, hoje equivaleria a R$ 1,54 bilhão.
Já em 2018, o fundador da CVC, Guilherme Paulus, deixou de vez a companhia. Um ano depois, assumiu ter pagado propinas de R$ 39 milhões para livrar empresas suas de multas milionárias. Quando o caso veio à tona, a CVC pôde dizer publicamente que ele não ocupava mais nenhum quadro da companhia.
Mas os últimos anos sem a família foram penosos para a empresa. A pandemia de Covid-19 derrubou o setor de turismo lá em 2020 — e a retomada parece bem mais difícil para ela do que para seus pares.
A solução pouco criativa da CVC para tentar retomar o rumo foi ligar-se de novo à família que a criou. O fundador, Guilherme Paulus, comprometeu-se a injetar R$ 75 milhões na empresa, em troca de uma fatia de ações, com um belo desconto no preço.
Os riscos da gestão familiar de grandes negócios permeiam toda a trama da aclamada “Succession”. Cabe ao investidor entender como, nesses casos, seu “voto de confiança”, ao comprar ações da empresa, se estende ainda mais às pessoas envolvidas na gestão da companhia.
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