“As corridas e falências bancárias em 2023 foram lembretes dolorosos de que não podemos prever todas as tensões que inevitavelmente virão com o tempo e o acaso. Portanto, não devemos nos acomodar com a resiliência do sistema financeiro”, disse o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, na quarta Conferência do Banco de España sobre Estabilidade Financeira hoje (29) mais cedo.
Powell fez uma retrospectiva sobre a crise bancária que aconteceu em março deste ano, quando o Silicon Valley Bank (SVB) e o First Republic Bank entraram em falência, e o Credit Suisse foi comprado pelo UBS.
“Quando o estresse bancário surgiu em março, agimos em conjunto com outras agências governamentais para resolvê-lo, usando nossas ferramentas de liquidez para disponibilizar recursos aos bancos que deles precisassem, e que apoiaram a estabilidade do sistema. O sistema bancário permanece sólido e resiliente, os fluxos de depósitos se estabilizaram e as tensões diminuíram”.
Ele lembrou das dificuldades que aconteceram no período da Grande Recessão, em 2007, da pandemia de coronavírus, que começou em 2020, e da guerra da Rússia contra a Ucrânia. “Os mercados financeiros ficaram sob extrema pressão. As autoridades tiveram que apoiar os mercados financeiros como parte da resposta monetária e fiscal extremamente forte à emergência de saúde pública, mas não podemos subestimar a resiliência do sistema financeiro”.
O Fed, para Powell, mesmo já com experiência em recessões econômicas, aprendeu bastante com a falência dos bancos no começo de 2023. “Estamos empenhados em aprender as lições das falências dos bancos americanos para o nosso programa de supervisão e regulamentação”.
Três são as observações que ele fez: a necessidade de fortalecer a supervisão e regulação do setor bancário; reconhecer quando uma crise está acontecendo e responder de forma decisiva; e ter os maiores bancos bastante resilientes. “Os eventos dos últimos dois meses teriam sido muito mais difíceis de administrar se os maiores bancos estivessem subcapitalizados ou sem liquidez”, afirma.
Powell também falou do ambiente econômico atual, taxas de juros, inflação e mercado de trabalho dos Estados Unidos. “A inflação permanece bem acima de nossa meta de longo prazo de 2%, e ela se moderou ligeiramente desde meados do ano passado. No entanto, as pressões inflacionárias continuam altas, e o processo de reduzir a inflação para 2% ainda tem um longo caminho a percorrer”.
Por conta disso, segundo Powell, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) precisou aumentar as taxas de juros em 5 pontos percentuais, e que isso causa aperto na demanda dos setores mais sensíveis aos juros, como habitação e investimento, além no aperto das condições de crédito. Ainda assim, os membros do comitê decidiram não subir mais os juros na última reunião do Fed.
“Tomamos essa decisão tendo em vista a distância percorrida na política de aperto, os atrasos incertos na política monetária e os possíveis ventos contrários do aperto de crédito. Conforme observado no Resumo das Projeções Econômicas do Fomc, uma grande maioria dos participantes do Comitê espera que seja apropriado aumentar as taxas de juros duas ou mais vezes até o final do ano”.
Vanessa Zampronho / Agência CMA
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