A inflação medida pelo IPCA-15 registrou alta de 0,04% a.m. em junho (de 0,51% a.m. em maio), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A impressão ficou acima das expectativas do Bank of America (BofA)e do mercado, em -0,15% e 0,02% respectivamente. “Em relação à nossa projeção, a surpresa veio principalmente dos grupos transportes (carros novos e passagens aéreas) e habitação (condomínio)”, indicou a instituição, em relatório.
A inflação anual desacelerou para 3,40% yoy em junho (de 4,07% yoy em maio), mais perto do centro da meta da banda de tolerância à inflação (3,25% + 1,5%). Os preços monitorados caíram -0,03% yoy (de -3,1% yoy), enquanto a inflação puxada pelo mercado desacelerou para 5,18% yoy (vs 5,76% yoy). A média dos núcleos de inflação desacelerou na margem (0,35% no mês ante 0,42% no mês anterior) e recuou para 6,20% em 12 meses (de 6,77%). Em 12 meses, o núcleo de serviços desacelerou para 6,53% (vs 6,85%), enquanto o núcleo industrial atingiu 8,55% (vs 9,17%).
Dada a dinâmica positiva das medidas de inflação subjacentes, cortes recentes nos preços de combustíveis e automóveis, forte queda nas commodities e valorização da moeda, o BofA revisou sua projeção de IPCA para 4,8% yoy, de 5,5%. “Mantemos nossa projeção de 3,7% para YE24. A melhora consistente da inflação, associada à manutenção da meta de inflação em 3,0% (o que deve derrubar as projeções de inflação de longo prazo) deve abrir caminho para que o Banco Central inicie o ciclo de flexibilização em agosto, conforme esperamos”.
A ata do Copom mudou o tom hawkish
O Banco Central do Brasil (BCB) divulgou a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) e a mensagem foi mais dovish do que a declaração, mas manteve o tom de dependência de dados. Após manter a taxa Selic em 13,75%, o BCB reforçou a necessidade de ancorar as expectativas de inflação de longo prazo. O aumento da taxa de juros neutra da economia de 4,0% para 4,5% ocorreu e não surpreendeu, pois o BCB discutiu esse potencial aumento na última reunião, mas a maioria das estimativas do mercado já era de 4,5% ou mais.
Durante a reunião de dois dias, os diretores do conselho discordaram sobre a orientação futura da comunicação. Enquanto a maioria votou para sinalizar um “afrouxamento parcimonioso à frente” – linguagem do banco central para corte de 25bps – o restante dos diretores não quis sinalizar os próximos passos. No entanto, eles chegaram à unanimidade quando o assunto foi a importância de ancorar as expectativas de inflação de longo prazo, o que justificou a suspensão da decisão e a falta de orientação para a próxima reunião.
Apesar da menor incerteza fiscal e da melhora da inflação e das medidas subjacentes, o comitê continua preocupado com a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) e seu impacto sobre as expectativas de inflação. O CMN se reunirá nesta quinta-feira (29) para decidir sobre a meta de inflação para 2024 em diante. A manutenção da meta de 3,0%, conforme esperamos, deve ajudar a se ancorar nas expectativas de inflação.
Os efeitos defasados acumulados do ciclo de aperto monetário e do aperto do crédito local são difíceis de ignorar nas decisões de política monetária à frente. “Em termos de redação, o BCB parece mais inclinado a iniciar o ciclo com 25pb (contra nossa projeção de 50pb). Nossa visão é de que até o próximo Copom as expectativas de inflação continuarão em queda, reforçando o espaço para cortes. Assim, em suma, mantemos nossa visão de que o BCB iniciará o ciclo de flexibilização em agosto, com um corte de 50pb, e a Selic chegará a 11,75% 2023YE e 9,50% 2024YE”.
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