A agência S&P anunciou a alteração da perspectiva do rating brasileiro de estável para positiva na tarde de ontem. De acordo com a Tendências Consultoria, essa mudança abre espaço para algum upgrade no horizonte de 24 meses.
Atualmente, o Brasil possui classificação BB-, ou seja, 3 notas abaixo do grau de investimento, perdido em 2015.
A Tendências diz que a decisão não era esperada neste momento, “tendo em vista o início turbulento do novo governo do ponto de vista da gestão econômica, com intenções e tentativas de mudanças em reformas e políticas importantes promovidas nos últimos anos.”
“No entanto, a agência S&P levou em consideração que boa parte dos retrocessos está sendo barrada e que a aprovação do arcabouço fiscal e a melhora das condições macroeconômicas, com
queda da inflação e melhores expectativas para o PIB, abre espaço para trajetória da dívida menos adversa”, segundo os especialistas da consultoria.
Na justificativa para a decisão foram mencionadas “medidas nos anos recentes” que reduziram os riscos à estabilidade macroeconômica e a diminuição do “risco de reformas serem revertidas”.
No entendimento da Tendências, a S&P reconhece não apenas a importância das diretrizes econômicas mantidas nos últimos anos, mas também os sinais de que o Congresso está atuando para
impedir retrocessos nas reformas promovidas. “Dentre tais pontos, a expectativa de o Banco Central continuar independente foi explicitamente citada. O arcabouço fiscal foi qualificado como mais frouxo que o teto, mas citando a preservação de “gatilhos que levaram à melhora fiscal.”
De todo modo, a questão fiscal ainda é colocada como algo condicional do ponto de vista de sua implementação e resultados. Nessa direção, a agência citou que um “arcabouço inadequado ou
implementação fraca pode levar à mudança na perspectiva para estável”, ou seja, à reversão da decisão de ontem. Por outro lado, “políticas econômicas pragmáticas”, com sinal de “mais clareza fiscal e monetária”, e uma evolução menor que a prevista da dívida, diante do arcabouço fiscal e maior crescimento, seriam aspectos a permitir a revisão da nota. Como outros aspectos potencialmente positivos, eventual aprovação da reforma tributária e o avanço do acordo com a União Europeia seriam elementos a acelerar a melhora dos ratings.
Assim, ainda que este upgrade sinalizado seja viável nos próximos meses, a recuperação de notas adicionais até o alcance do investment grade mostra-se improvável em um horizonte de quatro anos.
Na leitura da Tendências, projeções do cenário básico apontam que a relação dívida/PIB continuará em trajetória ascendente até o final da década, alcançando a faixa de 90%, patamar bastante superior à média de emergentes com grau de investimento.