Após a divulgação de amplo conjunto de indicadores de atividade referentes aos primeiros três meses do ano, a Tendências revisou as projeções do PIB do primeiro trimestre de 0,7% para 1,3% na comparação trimestral dessazonalizada e de 2,2% para 3,1% ante o mesmo período de 2022. A inércia do maior crescimento corrente, somada à expectativa de contribuição positiva adicional de setores-chave, com destaque para agropecuária e mercado de trabalho formal, motivou um pequeno ajuste altista na estimativa para o PIB do 2T23, resultando na elevação da projeção de crescimento econômico de 1% para 1,4% em 2023.
“Apesar da elevação do PIB do primeiro semestre, a expectativa é de que fatores positivos atuantes em intensidade superior ao esperado no começo do ano sejam atenuados ou se dissipem ao longo do segundo semestre. Pelo lado da oferta, o fim da colheita das culturas de maior peso na atividade agrícola e a saída do efeito positivo sobre a demanda de transporte, como soja e milho, reduzem a contribuição da agropecuária no PIB total. Pelo lado da demanda, as condições financeiras restritas, cujos efeitos já são perceptíveis sobre a concessão de crédito e nas pressões altistas sobre a inadimplência das famílias, somadas à intensificação esperada na redução da geração total de vagas de trabalho, sustentam a perspectiva de perda de dinamismo do consumo das famílias. Do ponto de vista da demanda externa, o ambiente global de baixo crescimento e de redução de preços da commodities também limita a contribuição do setor externo para o PIB da segunda metade do ano”, aponta a consultoria, em relatório.
Com relação às revisões de curto prazo, pelo lado da oferta, a principal alteração foi calcada na revisão da proxy do PIB da agropecuária. O indicador mostrou dois movimentos positivos em intensidade acima do inicialmente esperado, sendo tanto a maior produção da agropecuária no ano, cujo aumento ocorre majoritariamente no primeiro trimestre, resultando na atual estimativa de 8,8% QoQsa para o PIB da agropecuária no 1T23. Houve ligeira revisão na estimativa de serviços, atualmente em 0,4%, captando a resiliência do consumo de bens e serviços, beneficiado pela surpresa positiva com o ritmo atual do mercado de trabalho formal e pela redução das pressões inflacionárias, em um contexto de manutenção do alto volume de transferências do governo às famílias.
Por outro lado, os resultados da indústria de transformação e do ICC da construção civil reforçaram a expectativa de perdas do PIB industrial (projeção de -0,3% QoQsa).
Pelo lado da demanda, de forma semelhante aos setores com intersecção pelo lado da oferta, espera-se crescimento moderado do consumo das famílias (0,6% QoQsa), apesar da queda estimada para FBCF (-2,7% QoQsa) no 1T23. A demanda do setor externo deve contribuir positivamente, já que o recuo da exportação deve ser inferior à queda da importação (-1,1% QoQsa e -7% QoQsa, respectivamente), sendo que o primeiro deve captar a pequena queda no volume exportado de itens básicos, e o segundo, penalizado pela redução no volume importado de bens duráveis.
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