O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse, em entrevista ao Globo News, que o IPCA-15 veio melhor, com uma surpresa grande em vestuário e que os núcleos de inflação vieram um pouco melhor. “A inflação tem melhorado, num ritmo lento. A desinflação tem sido um pouco mais lenta do que a gente espera, mas a gente vê vários sinais positivos”, destacando a melhora na parte hídrica e a parte dos alimentos, em decorrência da queda nos preços das commodities.
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Ele lembrou que a parte dos alimentos em atacado vem caindo e que em breve deverá chegar ao varejo. “O crescimento global está um pouco para baixo e isso acaba ajudando nesse processo de desinflação”, citando os dados apresentados na Alemanha e nos Estados Unidos, com a possibilidade destes países terem que manter elevação nos juros.
Campos Neto destacou a votação estrondosa do projeto de nova regra fiscal no Congresso nesta semana. “Eu reconheço o grande trabalho que foi feito pelo governo, pelo ministro Haddad, como o Congresso se mobilizou e fez uma votação rápida e expressiva num tema tão importante para gente como é o arcabouço”.
Segundo o presidente do BC, o assunto fiscal influencia nas expectativas e destacou a recente queda nas taxas de juros. “As taxas de juros longos já caíram quase 2% nos últimos meses”, destacou.
Sobre a possibilidade do início dos cortes nos juros iniciarem, Campos Neto, frisou que é apenas um dos nove votos do Copom, destacando que o colegiado olha a inflação de curto prazo, a capacidade do país crescer sem gerar inflação e as expectativas. “A gente entende que tem ainda o tema da meta que tem que ser resolvido, que a gente acha que vai ser endereçado em breve. De forma geral, a gente entende que o cenário está melhor. Agora quando vai acontecer e se vai acontecer, isso é um tema do colegiado e eu não tenho como antecipar, pois sou um voto de nove”.
Sobre a intenção da equipe econômica de transformar a meta de inflação em uma meta contínua, Campos Neto citou o exemplo da Argentina como alerta. “Qualquer mudança de arcabouço ou de meta tem que ser feita pensando em gerar eficiência. Nossa opinião é que estamos em um período com muita incerteza e que o ideal era não fazer nenhum tipo de modificação”.
Ao ser questionado se a aprovação do arcabouço fiscal traz mais pressão sobre um possível corte nos juros, Campos Neto repetiu que não há uma relação mecânica entre “uma coisa e outra”. “Na parte de expectativa, o arcabouço tem um grande poder de influenciar a inflação futura”, disse. Campos Neto disse que a aprovação da nova norma fiscal retira o medo de que a inflação poderia explodir. “A gente eliminou o risco de calda”.
Ele voltou a ressalvar que o Banco Central tem seu tempo e leva em conta fatores técnicos. “Vamos ter que esperar para ver como isso vai de fato se transformar numa melhora de expectativa”.
Segundo o presidente do BC, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o direito de discutir juros. “Num momento como esse em que temos um choque de inflação mundial muito grande e sem um crescimento muito alto em vários lugares do mundo, com bancos centrais subindo juros, nosso trabalho técnico é dizer e fazer o combate a inflação com o mínimo de dor possível no crescimento econômico”, destacando que o BC brasileiro fez antes esse combate de forma rápida.
Sobre as críticas pessoais feitas pelo presidente Lula, Roberto Campos Neto lembrou que fez ajustes para cima na inflação em pleno ano eleitoral. “Foi o maior aumento de juros em ano eleitoral na história do país. A gente fez isso para cruzar os mandatos em uma situação mais estável. Se não tivéssemos feito isso, a inflação teria subido muito rápido”, justificou. Para ele, a equipe atuou de forma técnica.
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Imagem: Agência Brasil