Assim como em abril, na balança comercial de março, a agropecuária lidera o desempenho das exportações e a indústria extrativa o das importações. A principal diferença está na variação positiva do volume importado, na comparação interanual do mês de abril de 2023, que registrou recuo. Outra diferença a destacar é que o saldo da balança comercial de março foi o maior da série histórica mensal desse mês, enquanto o de abril de 2023, no valor de US$ 8,2 bilhões igualou-se com o de abril de 2022. Na comparação interanual do mês de abril, o valor exportado recuou 5,5%, puxado pela queda nos preços (9,5%), visto que o volume aumentou em 4,1%. A variação nas importações foi negativa (-7,7%) e explicada pela queda nos preços (-10,6%), pois o volume aumentou em 3,2%.
No acumulado do ano até abril, o valor exportado cresceu 1,6%, com aumento no volume (4,4) e queda nos preços (-2,3%). No caso das importações para essa mesma base de comparação, recuaram os preços (1,2%), o volume (1,3%) e o valor (2,3%).
As exportações de commodities explicaram 68,3% das exportações totais e recuaram, na comparação mensal do mês de abril, em 7,4%. A queda dos preços em 10,4% explica esse recuo, pois o volume aumentou em 3,0%. As variações dos preços, volume e valor para as não commodities foi negativa. No acumulado do ano até abril, o desempenho das não commodities em termos de valor (4,7%) foi melhor que o das commodities, que ficaram relativamente estagnadas, com variação de 0,1% em relação a igual período de 2022. A variação no volume das commodities (2,8%) superou a das não commodities (1,1%), enquanto que para as commodities os preços recuaram, para as não commodities os preços aumentaram em 3,7%. No acumulado do ano, a participação das commodities foi de 66,8% nas exportações totais.
As não commodities explicaram 89,5% das importações brasileiras, em abril, e registraram aumento de volume (2,8%) e queda nos preços (-8,2%). No caso das commodities, os preços recuaram 27,7% e o volume cresceu 7,1%. Na comparação do acumulado do ano até abril, as importações de não commodities recuaram em termos de preços (0,6%), de volume (3,1%) e de valor (3,5%). “Chama a atenção, na base de comparação do acumulado do ano, o aumento em 16,3% do volume importado das commodities”, analisa a FGV.
A análise por setor de atividade contribui para esclarecer o comportamento dos fluxos de comércio. O setor da agropecuária foi o único setor que registrou variação positiva no valor exportado (10,6%), na comparação mensal do mês de abril, explicada pelo aumento no volume exportado (20,1%), pois os preços recuaram (-8,2%). As exportações do setor explicaram 32% do valor total das exportações brasileiras. Em abril de 2022, esse percentual era de 27%. Entre as 23 principais commodities exportadas pelo Brasil, a participação da soja em grão foi de 41,6% no grupo das commodites e de 28,3% no total das exportações brasileiras.
Seguindo o comportamento já mencionado das exportações, o volume cresceu e os preços caíram. O recuo nos preços da agropecuária não se traduz em expectativas desfavoráveis para o desempenho do setor. No ano de 2022, o início da Guerra da Ucrânia levou a uma escalada de aumento de preços das commodities, em especial as do setor da agropecuária. Na comparação entre os meses de abril de 2022 e 2023, os preços aumentaram 46,7%. Esse recuo em abril reflete, em parte, a volta a patamares mais estáveis dos preços do setor. Na comparação interanual do mês de abril, a indústria extrativa registrou aumento no volume exportado (13,5%), mas a queda de 21,4% nos preços levou a um recuo no valor exportado de 11,6%. No caso da indústria de transformação, valor, volume e preços recuaram na comparação mensal.
Entre os acumulados do ano até abril de 2022 e 2023, a agropecuaria apresentou variação positiva em valor (8,7%), volume (7,2%) e preços (3,2%). A variação, em valor, da indústria extrativa recuou em 2,0%, com a queda de preços em 15,3% e aumento no volume de 17,6%. Na transformação, houve queda do volume (- 2,4%) e do valor (-0,2%), mas aumento nos preços de 2,2%.
No ano até o momento, a principal contribuição para o aumento das exportações vem do setor de agropecuária. Em abril, o setor contribuiu em 52% na variação das exportações.
A análise por setor de atividade mostra que o volume importado em abril da indústria extrativa registrou aumento de 27,6%, seguido da transformação (1,1%) e recuo em 31,2% na agropecuária. O aumento na extrativa está associado ao crescimento em volume das importações de petróleo bruto em 124%, entre abril de 2022 e 2023. Nesse mesmo período os preços de importação do petróleo recuaram 30,3%.
A participação da extrativa nas importações totais, em abril, foi de 11,1%, da transformação de 86,7% e da agropecuária de 1,7%. A menor participação da extrativa, que cresceu acima de 20%, explica que, no agregado das importações, o aumento foi de apenas 3,2%.
Os indicadores do nível de atividade da Base do ICOMEX mostram que, em abril, o volume importado de bens de capital da agropecuária aumentou em 36%, o da indústria de transformação em 1,6%; por sua vez, o volume de bens intermediários para o setor da agropecuária caiu 0,9% e para a transformação caiu 0,5%. Observa-se que a participação das importações de bens de capital da agropecuária é de 0,5% nas importações totais e, portanto, não explicaria o aumento do volume importado (Gráfico 6). O aumento do volume importado total em 3,2%, entre abril de 2022 e 2023, está principalmente associado às compras da indústria extrativa e não sinaliza expectativas favoráveis de crescimento para a indústria de transformação, com o recuo na compra de bens intermediários e uma variação abaixo de 2% na compra de bens de capital.
A balança comercial melhorou para os principais parceiros, exceto para a União Europeia, que passou de um superávit no primeiro quadrimestre de 2022 para um déficit no mesmo período em 2023. Nessa mesma base de comparação, as exportações aumentaram em valor para a Argentina (27,3%), China (3,1%) e Estados Unidos (2,9%). Para a União Europeia foi registrada queda de 0,7%. Nas importações, houve aumento das compras oriundas da União Europeia (19,7%) e da Argentina (5,6%) e
queda para os demais parceiros. Destaca-se o caso da União Europeia, que reverteu o sinal da balança comercial. O principal produto exportado para a União Europeia, com participação de 19%, o petróleo bruto, registrou aumento de 52,4%, na comparação dos primeiros quadrimestres de 2022 e 2023.
O mesmo vale para o farelo de soja 11% de participação e aumento de 13,8%. No entanto, dois produtos, que somados explicam 14,6% das exportações, registraram queda: soja (7,6%) e café (37,0%). Os principais produtos que juntos somam 25,5% das compras brasileiras oriundas da União Europeia registraram alta: produtos farmacêuticos (47,6%); óleos combustíveis (282%); e partes e peças de automóveis (7,6%).
O aumento das exportações de petróleo bruto e das importações de óleos combustíveis no comércio Brasil-União Europeia contrasta com a queda das vendas de petróleo bruto para os Estados Unidos (26,0%) e das importações de óleos combustíveis (46%). Os resultados sinalizam uma mudança na direção do comércio, na comparação entre os primeiros quadimestres de 2022 e 2023.
A análise pelos principais parceiros mostra que a liderança na variação do volume exportado é da Argentina, seja na comparação do mês de abril (30,3%) ou no acumulado até abril, 16,0%. Ressalta-se que 21% dos produtos exportados para a Argentina, no período de janeiro a abril, pertencem ao setor automotivo, seguido da soja 9,2%. A China, principal mercado das exportações brasileiras, registrou aumento de 15,8% e de 11,9%, na comparação mensal e do acumulado do ano, respectivamente. Nos Estados Unidos, a variação do volume recuou em abril, 7,6%, mas é positiva na comparação do acumulado do ano (4,4%). Para a União Europeia, o volume recuou 10,8%, em abril. No caso das importações, as variações, na comparação interanual de abril, foram positivas para a China (9,4%), União Europeia (3,7%) e Ásia exclusive China (5,9%). Chama a atenção o caso dos Estados Unidos, com queda no volume importado, na comparação mensal e do acumulado do ano.
Como já mencionado, o principal produto importado dos EUA no acumulado até abril foi o óleo combustível, com variação negativa, em valor, de 46%, com participação de 15% no total das importações oriundas do país.
Os termos de troca registraram aumento de 0,8%, entre março e abril de 2023, queda de 1,5% entre abril de 2022 e 2023 e iguais na comparação das médias de janeiro a abril de 2022 e 2023 (Gráfico 11). Em termos de níveis, portanto, as diferenças são pequenas. No entanto, a dinâmica de comportamento dos preços em 2023 difere da observada em 2022. Entre os primeiros quadrimestres de 2021 e 2022, os preços exportados aumentaram 18,2% e os importados, 32,8%. O efeito inflacionário da Guerra da Ucrânia junto com as questões ainda pendentes de logística da pandemia afetaram relativamente mais os preços importados do que os exportados. Na mesma base de comparação entre 2022 e 2023, os preços das exportações recuam 2,3% e os das importações 1,2%. A queda nos preços exportados é maior do que a dos importados. Em ambos os casos, o comportamento dos preços não favorece um aumento nos termos de trocas.
A agropecuária é a principal fonte de dinamismo das exportações brasileiras até o momento, liderada pelo aumento do volume. A soja lidera no primeiro semestre do ano e a continuação desse protagonismo requer a sustentação das outras exportações agropecuárias. Por enquanto, mesmo com preços estáveis, as expectativas tem sido favoráveis com a retomada das compras chinesas de carne. Além disso, com a safra favorável e os problemas na Argentina (seca e questões cambiais), o cenário sinaliza para o aumento das exportações do Brasil em 2023 em relação a 2022.
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