Pela sexta vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, em decisão unânime. No comunicado, o Copom deixa claro que poderá ajustar a política monetária e que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. Mas inclui no comunicado que este cenário é menos provável.
Para o Copom, a manutenção da taxa de juros “é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024”. O grupo avalia que “sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.
Segundo o comunicado, “por um lado, a reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal”. Ainda conforme o Copom, por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária.
O Copom enfatiza não haver relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. “Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas”.
Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação.
“O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária”, frisa.
Na decisão, o Copom classificou de adverso o ambiente externo. “Os episódios envolvendo bancos no exterior elevam a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até o momento, requerendo contínuo monitoramento. Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente”.
Em relação ao cenário doméstico, para o Copom, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom,”ainda que exibindo maior resiliência no mercado de trabalho”. Segundo o comunicado, a inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação.
O grupo cita, como fator de risco inflacionário, uma maior persistência da inflação global, a incerteza sobre o desenho final do arcabouço a ser aprovado pelo Congresso, a desancoragem maior da expectativa de inflação para prazos mais longos. Para baixa, o comunicado aponta uma queda adicional nos preços da commodities internacionais em moeda local, a desaceleração da economia global e uma desaceleração na concessão de crédito maior do que seria compatível ao atual ciclo de política monetária.
O Copom manteve as projeções de inflação neste ano e no próximo. Para 2023, o comitê projeta uma inflação de 5,8% e de 3,6% em 2024.
Dylan Della Pasqua / Agência CMA
Imagem: Piqsels