O Estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein espera que a meta Selic seja mantida em 13,75%, em razão da permanência da desancoragem das expectativas de inflação e da necessidade de consolidação do processo de desinflação.
Para ele, o Copom deve continuar com um tom hawkish ao sinalizar que segue vigilante, com a estratégia de manutenção da taxa Selic, de forma a assegurar a convergência da inflação.
Algum abrandamento, diz Goldenstein, pode ocorrer na descrição do balanço de riscos e na possível supressão da menção referente à possibilidade de voltar a elevar os juros. Essa exclusão decorreria do fato que as expectativas de inflação entre os anos de 2024 e 2026 se estabilizaram nas últimas semanas, da eliminação do risco de cauda de uma trajetória explosiva da relação dívida/PIB devido ao novo arcabouço fiscal e da melhora, ainda que lenta, dos indicadores recentes de inflação.
A projeção de inflação para 2024 no cenário de referência não deverá apresentar variação relevante com relação aos 3,6% do Copom de março. Como fator altista, vale destacar a deterioração adicional das expectativas de inflação, ainda que em menor magnitude do que no período anterior. No Focus, observou-se a seguinte trajetória da mediana para o IPCA: de 5,95% na reunião de março para 6,05%% em 2023, de 4,11% para 4,18% em 2024 e de 3,90% para 4,00% em 2025 (o ano de 2026 ficou estável em 4,00%).
Vale lembrar que, na última ata, o Copom atribuiu grande peso à piora das expectativas de inflação, apontando fatores como: i) o seu aspecto fundamental na dinâmica inflacionária e no processo decisório do Copom; ii) o risco altista para a inflação de uma desancoragem maior ou mais duradoura das expectativas de inflação para prazos mais longos; iii) a desancoragem demandar maior atenção na condução da política monetária, elevar o custo da desinflação e representar o principal fator para a elevação das projeções de inflação do Copom.
Apesar de a estabilidade recente das expectativas não deixar de ser uma notícia positiva, permanecerem com um desvio elevado em relação à meta de inflação gera desconforto e afeta as
projeções do BC. Um outro fator altista refere-se à trajetória da Selic no Focus, que passou a embutir o início do processo de relaxamento em setembro (contra novembro anteriormente), com taxa de 12,50% no final de 2023, ante 12,75%.
Como fator baixista, o principal destaque é a apreciação da taxa de câmbio de R$ 5,25 para R$ 5,05 (cotação média observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom), representando uma variação de 3,8%. Além disso, observou-se queda dos preços das commodities agrícolas. Assim, a projeção de inflação para 2024 no cenário de referência deverá se situar na casa de 3,6%/3,7%, mantendo um desvio não desprezível em relação à meta de 3,0%, o que limita uma indicação, neste momento, de flexibilização da política monetária.
Na análise da inflação, o Copom deverá reconhecer a continuidade do processo de desinflação e uma abertura mais benigna das últimas divulgações, mas ressaltando a permanência em patamar acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta de inflação e a necessidade de se observar os próximos números para confirmar se o processo de desinflação prosseguirá em velocidade adequada.
Já os dados recentes de atividade e de mercado de trabalho vêm se mostrando mais fortes do que o esperado, o que pode acarretar uma abertura mais lenta do hiato do produto e uma maior resiliência da inflação de serviços, o que gera ao Comitê um maior conforto para a manutenção de uma postura conservadora.