O BTG Pactual, maior banco de investimentos da América Latina, divulgou seu relatório de macroeconomia internacional, o “Global Asset Strategy & ETF Watch List”, analisando o cenário global até maio e mostrando uma combinação de desafios e oportunidades. No documento, o banco analisa:
- Cenário dos EUA;
- Cenário da Europa;
- Cenário da China;
- Estratégia de renda fixa;
- Estratégia de renda variável.
A partir do relatório, o Monitor do Mercado traz para você, investidor, os principais pontos de cada cenário. Confira:
Estados Unidos
Os Estados Unidos registraram um crescimento do PIB de 1,6% no primeiro trimestre de 2024, abaixo das expectativas do mercado que previam 2,5%. Apesar do crescimento abaixo do esperado, a demanda doméstica continua robusta.
O consumo das famílias avançou 2,5% no primeiro trimestre, com destaque para o setor de serviços, que cresceu 4%. O segmento de bens apresentou uma queda de apenas 0,4%, menor do que a esperada. Esses dados refletem um consumo forte, mas fatores contábeis como estoques e importações impactaram negativamente o cálculo do PIB.
Mercado de trabalho e inflação
O mercado de trabalho apertado continua a ser um motor chave para o consumo robusto, com uma média de 264 mil vagas abertas nos últimos três meses. A taxa de desemprego e os pedidos de seguro-desemprego permanecem baixos, indicando um mercado de trabalho aquecido.
O deflator do PCE (índice de preços de gastos com consumo pessoal), uma medida de inflação monitorada pelo Federal Reserve (Fed), subiu 0,32% em março, alinhado com as expectativas. A inflação no setor de serviços aumentou, enquanto a do segmento de bens diminuiu, refletindo um desafio contínuo para a desinflação.
Expectativa de corte de juros pelo Fed
Jerome Powell, presidente do Fed, indicou que a recente alta da inflação não inspira confiança no processo de desinflação. O comitê de política monetária está preparado para manter as taxas de juros em níveis restritivos pelo tempo necessário.
A expectativa é de que os cortes nas taxas de juros comecem em setembro, com dois cortes previstos para este ano e quatro em 2025. No entanto, se a inflação não mostrar sinais de desaceleração, os cortes podem ser adiados para 2025.
Perspectivas para o segundo trimestre
Para o segundo trimestre de 2024, o consumo das famílias deve crescer 3,3%, sustentando um crescimento mais forte do PIB, estimado em 3,1%. Com base nessas previsões, espera-se que o crescimento econômico dos EUA atinja 2,7% em 2024 e 1,9% em 2025.
Europa
A zona do euro registrou uma recuperação nos PMIs (Índice de Gerentes de Compras) de serviços no início do segundo trimestre de 2024, o que sugere um início de trimestre mais forte.
O PMI composto avançou para 51,4 pontos, superando as expectativas de 50,7 pontos, impulsionado principalmente pelo setor de serviços, que alcançou 52,9 pontos, enquanto o setor industrial apresentou um desempenho mais fraco com 45,6 pontos.
A Alemanha e a França lideraram o crescimento, enquanto os países periféricos mostraram uma performance mais tímida.
Inflação
O índice de preços ao consumidor (CPI) da Zona do Euro avançou 2,4% em abril, em linha com as expectativas do mercado. A inflação núcleo, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, desacelerou de 2,9% para 2,7%. Espera-se que a inflação fique em 2,44% em 2024 e 2,12% em 2025.
Expectativa de corte de juros pelo BCE
O Conselho do Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter as taxas de juros estáveis em abril, com a taxa de depósito em 4%. Essa foi a quinta reunião consecutiva sem mudanças nas taxas. O comunicado do BCE deixou aberta a possibilidade de cortes de juros na próxima reunião, dependendo da evolução dos dados econômicos.
Christine Lagarde, presidente do BCE, indicou que a confiança para iniciar cortes de juros poderia ser construída em junho, quando o banco atualiza suas projeções. Muitos membros do BCE já estão vocalizando a possibilidade de cortes em junho, com alguns considerando até mesmo uma nova redução em julho. A expectativa é que a taxa de juros encerre o ano em 2,75%.
Perspectiva de crescimento
Estima-se um crescimento de 0,8% para a zona do euro em 2024, suportado por uma alta de 0,3% no primeiro trimestre. Este crescimento é visto como um risco menor para a desinflação comparado aos EUA.
China
Em meio à volatilidade no Ocidente, os desafios econômicos domésticos da China ganharam menor relevância no cenário global. O PIB chinês avançou 1,6% no primeiro trimestre de 2024, alinhado com as estimativas. No entanto, os indicadores de atividade em março mostram um crescimento menos sustentável entre os setores.
- A produção industrial da China cresceu 4,5% em março, abaixo dos 6% esperados pelo mercado;
- O varejo registrou um aumento de 3,1%, também abaixo das expectativas de 4,8%.
Esses dados refletem uma fraqueza tanto na oferta quanto na demanda, resultando em um baixo crescimento para o segundo trimestre de 2024.
Dificuldades no setor imobiliário
O setor imobiliário chinês continua a enfrentar desafios significativos. Os investimentos no setor recuaram 9,5% em março, comparado ao ano anterior. As vendas de casas caíram 21% e a entrega de imóveis diminuiu 21,7%. Não foram implementadas novas medidas de suporte ao setor pelo governo, sugerindo que a atual situação será a nova realidade para o mercado imobiliário chinês.
Política monetária e reunião do comitê
O Banco Popular da China (PBOC) adotou uma postura mais conservadora, não promovendo cortes nas taxas de compulsório ou nas principais taxas de referência. No entanto, o Politburo chinês reiterou a disposição para cortes de juros, indicando o uso flexível de ferramentas monetárias e uma política fiscal proativa para enfrentar os desafios econômicos.
O Comitê Central do Partido Comunista Chinês se reunirá em julho para discutir reformas frente aos desafios domésticos e complexidades internacionais. Este será o terceiro plenário desde a eleição dos policymakers em 2022, e a expectativa é de que medidas importantes sejam discutidas para estabilizar a economia.
Estratégias de renda fixa
Recentes dados de inflação e declarações do Fed (Banco Central dos EUA) levaram ao aumento das taxas de juros de curto prazo. Nossa estratégia, com duração de 5,5 anos, menor que a média do mercado (7 anos), foi acertada nesse contexto.
O crescimento econômico manteve os spreads de crédito (diferença entre os juros pagos por títulos corporativos e os títulos do governo) baixos. Nossa aposta em títulos high yield (maior risco, maior retorno) ajudou a amortecer os efeitos do aumento das taxas de juros.
Foco em mercados desenvolvidos
Estamos investindo principalmente em Renda Fixa nos EUA e na Europa. Nos EUA, os rendimentos são atrativos devido às altas taxas. Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) pode começar a cortar juros em junho, oferecendo boas oportunidades.
Duração e composição dos títulos
Mantemos a duração dos nossos investimentos em 5,5 anos, abaixo da média do mercado. Estamos mais investidos em títulos do governo e de empresas com boa avaliação (Investment Grade). Em títulos protegidos contra a inflação (TIPS), mantemos uma duração menor, até 3 anos.
O que os investidores devem fazer?
Segundo o banco, os investidores devem:
- Focar em ativos de qualidade nos EUA e na Europa;
- Adaptar-se corretamente a duração e composição dos investimentos para um bom equilíbrio entre risco e retorno;
- Monitorar as próximas ações do Fed e do BCE.
Estratégias de renda variável
O mercado de ações caiu em abril devido à reprecificação do ciclo monetário nos EUA e às incertezas geopolíticas.
266 empresas do S&P 500 divulgaram resultados do primeiro trimestre de 2024, surpreendendo com um aumento médio nos lucros de 8,7%. Destaque para os setores industrial, saúde, financeiro e comunicação.
O prêmio de risco das ações (equity risk premium) está comprimido, indicando um retorno moderado para investidores.
Alocação geográfica e setorial
Estamos subalocados em mercados desenvolvidos (exceto EUA) e emergentes devido a preocupações com a China. Nos EUA, continuamos investindo apesar do índice de preço/lucro (P/E) elevado.
Temas de investimento
Focamos em empresas de inteligência artificial, saúde, biotecnologia e cibersegurança. Estas empresas têm forte capacidade de definição de preços, baixo endividamento e altas barreiras à entrada.