A Tendências Consultoria analisou que a leitura do IPCA de março revelou forte inflação de preços administrados, impactada pela reoneração dos impostos federais sobre combustíveis e pelo retorno das tarifas TUST/TUSD à base de cálculo do ICMS sobre a energia elétrica residencial. Em contrapartida, encerrado o primeiro trimestre do ano, os preços de alimentos e a inflação de serviços demonstraram variações abaixo das nossas expectativas. Neste sentido, enquanto a perspectiva para alimentação e serviços torna-se mais benigna, o cenário para combustíveis mostrou-se ainda mais desafiador, diante de novas mudanças tributárias.
“A recente alteração da cobrança do ICMS sobre a gasolina, anunciada nas últimas semanas, terá um efeito altista significativo sobre a inflação neste ano”, diz relatório da consultoria divulgado há pouco.
“Diante do balanço entre os fatores baixistas e altistas, elevamos a nossa projeção para o IPCA de 2023 de 5,8% para 5,9%. Para 2024, a estimativa permanece em 4,4%.”
Os governos estaduais, por meio do Conselho de Política Fazendária (Confaz), decidiram mudar o sistema de cobrança do ICMS sobre os combustíveis. A partir de julho, irá vigorar uma nova alíquota ad rem sobre a gasolina, no valor de R$ 1,22 por litro.
“No nosso cenário, já incorporávamos a elevação da alíquota geral do ICMS em 3% pela maior parte dos estados, de forma concentrada em maio e junho.” Neste sentido, dizem os especialistas, a nova alíquota impõe um aumento de preços ainda maior do que aquele que já havia sido incorporado anteriormente, resultando em um impacto de 0,2 p.p. sobre a projeção da Tendências para o índice geral.
Ainda assim, na visão dos especialistas, o cenário tributário para os combustíveis permanece incerto: a essencialidade da gasolina ainda é um tema em discussão no STF e, caso o item não seja mais classificado como essencial, a tributação poderá ser mais elevada.
“Com relação aos fatores que compensaram a alta da nossa projeção para a gasolina, destaca-se a redução das expectativas para a inflação do grupo Alimentação e de serviços” A tendências diz que a alta dos preços de alimentos acumulada no primeiro trimestre (0,5%) aponta um cenário mais positivo do que o esperado para as safras brasileiras em 2023, influenciado pelo arrefecimento dos preços de commodities, queda nos custos de produção agropecuária e normalização das condições climáticas, segundo analisou a consultoria.
“Neste sentido, revisamos nossa projeção para o subgrupo alimentação no domicílio de 3,4% para 2,9%.”
Para a Tendências, a inflação de serviços demonstra sinais de uma contínua desaceleração desde julho do ano passado, apresentando no primeiro trimestre variações abaixo do esperado para itens como passagens aéreas e aluguel residencial. “No entanto, a perspectiva para o segundo semestre é desafiadora, no contexto de maior expansionismo fiscal e de desancoragem das expectativas inflacionárias, aspectos que favorecem maior inércia”, explica. “Neste cenário, reduzimos em 0,1 p.p. a nossa projeção para a inflação de serviços, que deve encerrar o ano em 6,0%.”
Camila Brunelli / Agência CMA
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