Os resultados impressionantes da Nvidia dispararam suas ações e impulsionam as bolsas do mundo. Mas quais foram as forças que moveram a empresa a aumentar seu lucro por ação em 765%, na comparação com o ano passado?
O Monitor do Mercado conversou com Marcel Saraiva, gerente de vendas da divisão Enterprise da NVIDIA no Brasil, e falou sobre os negócios na China, as restrições dos Estados Unidos, Brasil e as projeções para o futuro.
O Monitor também te explica como funciona a operação da Nvidia. Spoiler: sua maior margem de lucro está ligada aos “data centers”.
Balanço da Nvidia surpreende com números impressionantes
A ação preferida de Wall Street para 2024já colheu bons frutos. De janeiro para cá, os papéis da Nvidia já tiveram alta de 58%, contra os 37% esperados para o ano pelo FactSet. Só nesta quinta-feira (22) de pós-balanço, a alta é de mais de 12%.
A empresa, inclusive, já entrou no seleto grupo das trilionárias. Nos Estados Unidos, apenas 6 empresas tem valor de mercado acima de US$ 1 trilhão: Alphabet, Meta, Microsoft, Apple, Amazon e, agora, Nvidia.
Isto porque os resultados do trimestre encerrado em janeiro impressionaram os investidores. A receita teve alta de 265% na comparação anual e lucro líquido de US$ 12,285 bilhões cresceu 769%, comparado ao mesmo período do ano anterior.
Nvidia registra lucro recorde no quarto trimestre fiscal de 2024
Mas sabemos que no mercado financeiro o que importa são as expectativas – e a Nvidia também as superou:
- Receitas: US$ 22,10 bilhões vs. US$ 20,63 bilhões esperado pelos analistas.
- Lucro por Ação: de US$ 4,93 vs. US$ 4,64 estimado.
Porque o balanço da Nvidia foi bom e o que impulsiona as vendas da empresa
Segundo o executivo, são 2 forças que movem a Nvidia: a Inteligência Artificial (IA) generativa e a computação acelerada.
Pioneira na IA, a gigante é responsável por 70% das vendas de chips que suportam a tecnologia, mas o seu lucro real vem, majoritariamente, dos seus dada centers – e é ai que entra a computação acelerada.
Saraiva explica que “já havia um movimento de transição de uma computação genérica para uma computação acelerada”, ou seja, em vez de construir servidores que podem lidar com qualquer programa, construir servidores específicos para cada programa.
Com o aumento da IA, aumenta a necessidade da construção desses servidores, que nada mais são do que parte do data center – que viu suas vendas crescerem 409% no ano.
A operação confirma o ditado: quem chega cedo, bebe água limpa. Apostando em servidores e IA, seus concorrentes, Meta, Amazon, Microsoft, mesmo tentando construir seus próprios semicondutores, hoje têm que estabelecer parcerias com a Nvidia para desenvolver seus produtos.
A própria Open AI, hoje da Microsoft, precisa de equipamentos Nvidia para rodar.
As restrições de Chips dos EUA e as vendas da Nvidia na China
Os números vieram bons, mas as restrições impostas pelos Estados Unidos à tecnologia chinesa atrapalharam as vendas da empresa na China.
Desde setembro de 2022, os Estados Unidos vêm impondo restrições para a exportação de chips de IA para a China, por acreditarem que é uma questão de “Segurança Nacional”, afinal, os chips também podem ser utilizados para o controle de drones e mísseis.
Saraiva conta que a última decisão do governo americano – que também baniu os chips que haviam sido feitos já para se adequar as restrições – gerou “um impacto nos números” e explicou que “demora um tempo para atender a regulamentação e criar um equipamento que atenda o mercado”.
Mesmo assim, a receita proveniente da China quase dobrou na comparação anual.
Agora, segundo Saraiva, a empresa está em um momento de transição, buscando uma solução que agrade tanto o governo americano quanto seus clientes chineses.
Expectativas para o futuro e oportunidade no Brasil
Olhando para o futuro, a Nvidia espera cada vez mais vendas atingindo cada vez mais mercado.
Neste trimestre, a Nvidia já espera alcançar uma receita de US$ 24 bilhões, com uma margem de erro de 2% a mais ou a menos. A projeção também animou o mercado, que estimava uma receita de US$ 20,4 bilhões para o período.
Segundo Saraiva, há diversas soluções com IA generativa que serão desenvolvidas ao longo deste ano e do próximo, ainda mais com o destaque que a tecnologia vem ganhando com o tempo.
Isso gera boas perspectivas de venda para a Nvidia, que pode lucrar com essas invenções tanto sua frente de data centers quando com sua frente de semicondutores.
Mas é nos data centers que o executivo enxerga oportunidade para o Brasil.
A ampliação do uso de inteligência artificial vai aumentar o número de servidores no mundo, e, especialmente, dos servidores de computação acelerada.
Esses servidores funcionam melhor quando estão mais perto do usuário, explica Saraiva, e isso pode ser uma oportunidade para o Brasil, onde sobra espaço físico e a energia elétrica é considerada barata.
Saraiva vê o Brasil bem posicionado para se tornar um polo de exportação de servidores, aqui na América Latina.