O estrategista-chefe da Warren Ren, Sérgio Goldenstein analisou que o comunicado do Copom abriu as portas para o início do ciclo de relaxamento monetário, mas sem se comprometer com a próxima reunião.
“Entendemos que o comunicado buscou conter um excesso de otimismo do mercado com relação à trajetória de queda da Selic, mas seguimos com o nosso call de que o Comitê iniciará o processo
de flexibilização monetária com um corte de 25 bps em agosto, acelerando para 50 bps nas reuniões subsequentes do ano, com a Selic fechando 2023 em 12% e 2024 em 9,50%.”
Segundo ele, a Warren avalia que a projeção de inflação no cenário de referência continuará declinando, em função de provável revisão adicional baixista do IPCA para 2023 e da perspectiva de continuidade do movimento de declínio das expectativas de inflação. “A decisão do CMN sobre a meta de inflação será fundamental para a redução das incertezas e do desvio das expectativas em relação à meta.”
O especialista destacou os pontos que considerou hawkish. São eles: A projeção de inflação para 2024 no cenário de referência recuou de 3,6% para 3,4%, desvio ainda não desprezível em
relação à meta de 3,0%. “Tendo em vista o menor efeito inercial do IPCA de 2023 (cuja projeção foi revista de 5,8% para 5,0%), o declínio em torno de 20 bps das expectativas de inflação para
os anos de 2024 a 2026 e a revisão de preços administrados para o próximo ano, de 5,2% para 4,6% (impacto de -15 bps), esperávamos uma projeção um pouco mais baixa para o IPCA de 2024. Além do efeito altista da nova trajetória do Focus (incorporando o início do ciclo em agosto e taxa terminal de 9,5%), provavelmente o Copom passou a trabalhar com uma trajetória mais fechada do hiato do produto”
Outro ponto é que o Comitê não explicitou um maior conforto com a evolução recente da inflação. Citou que a inflação acumulada em 12 meses vai subir ao longo do segundo semestre e apontou que as medidas de núcleos seguem acima do intervalo compatível com a meta de inflação, sem apontar a abertura benigna das últimas leituras.
Além disso, a descrição do balanço de riscos não apresentou mudanças relevantes. Vale notar que continuou a apontar como risco altista a incerteza sobre o desenho final do arcabouço fiscal, apesar de qualificá-la agora como alguma incerteza residual.
Ao citar os riscos baixistas, ainda fez a ressalva de que parte importante do movimento de queda dos preços das commodities em moeda local já se verificou, além de não ter incluído um maior
impacto do canal de câmbio, apesar da trajetória recente bastante benigna do real. Por último, o Copom reiterou que a conjuntura atual é caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas e acrescentou que isso demanda cautela e parcimônia. Repetiu ainda que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária.
Ao mesmo tempo, diz o estrategista, o Copom abrandou, em alguma medida, o seu discurso, abrindo espaço para o início do ciclo de relaxamento monetário, mas sem sinalizar que será
necessariamente na reunião de agosto. Cabe notar os seguintes pontos:
Nas projeções de inflação, deixou de ser apresentado o cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante em todo o horizonte relevante.
Além disso, ao mencionar a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado, o comunicado mudou o tempo verbal. Enquanto antes apontava que avaliaria se ela seria capaz para assegurar a convergência da inflação, agora afirma que a estratégia tem se mostrado adequada. “Em outras palavras, de forma sutil, não se compromete com essa estratégia para o futuro.”
Foi excluída, ainda, a possibilidade de voltar a subir os juros caso o processo de desinflação não transcorra como o esperado.
“Ao relembrar que os passos futuros dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, das expectativas de inflação, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos, o Comitê passa a assumir uma postura mais data dependent. A própria menção a passos futuros indica uma possibilidade de mudança da estratégia atual.
“Com relação aos impactos do comunicado sobre a curva de juros, esperamos uma discreta pressão altista sobre o segmento de curto prazo e variações não relevantes na parte intermediária e longa”, aposta o especialista.