Ligando os pontos
Textos de Marcos de Vasconcellos, jornalista, CEO do Monitor do Mercado, colunista da Folha de S.Paulo e assessor de investimentos.
Desonerar combustíveis não deveria estar na mesa de Lula
Raramente existirá um momento mais propício para se retirar um gatilho emergencial como foi proposto.
27/02/2023 09:48
Volta a cobrar imposto ou não? A isenção de impostos federais para o álcool e a gasolina está programada para acabar nesta terça-feira (28). O refresco nos impostos distribuídop às vésperas da eleição passada, por Jair Bolsonaro, foi mantido por Lula em 31 de dezembro. Encerrar o desconto agora deverá impactar o preço da gasolina em pelo menos R$ 0,50.
É importante lembrar que, agora, tanto o real como o preço do petróleo seguiram trajetórias que favoreceram a queda nos preços da gasolina. O petróleo já caiu mais de 30% desde o topo da última alta. Ou seja, raramente existirá um momento mais propício para se retirar um gatilho emergencial como foi proposto. Mas, claro isso tem um custo de capital político. E não é pequeno.
A tendência é que o problema fique ainda maior se fora mantida a isenção e o governo benevolente não apresentar uma proposta fiscal (gastos x receitas) que seja, no mínimo, responsável. Haddad prometeu entregar o plano em março, mas a confusão à qual o PT o submerge parece dificultar um projeto factível.
O resultado do cabo de guerra dentro do partido é que a decisão chegou em aberto na mesa do presidente. De acordo com o noticiário, Lula irá decidir sobre a continuidade ou não da isenção dos impostos.
O lado "político" do governo, claro, quer manter. O lado "econômico" precisa desesperadamente de arrecadação, mas não consegue convencer o outro lado que é necessário muito dinheiro para pagar as promessas de campanha.
O problema econômico nesse tipo de decisão de não aumentar impostos num momento visto como "ideal" para jogar para a torcida é o risco de aumento significativo da dívida pública trilionária ao longo dos anos. Se o governo não o fizer agora, fará quando? Seguirá a mesma trajetória dos governos de Dilma, onde a caneta da presidente pesou mais do que os fatos?
Momento perfeito, motivo concreto, eleição bem distante... Colocar a decisão na mesa de Lula mostra que ele montou um time incapaz de fazer o próprio trabalho. Os ministros são muito bem pagos e devem levar as contas do país a sério.
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