Vozes de Mercado
Artigos de opinião sobre economia e investimentos, por diversos autores
O ESG e as operações de fusões e aquisições no Brasil: oportunidades e cuidados
Nosso país tem suas características e peculiaridades, sendo uma terra que demanda um bom conhecimento das nossas realidades, mas segue como um dos líderes para ótimas oportunidades e atração de investimentos.
13/04/2021 15:15
Nosso país tem suas características e peculiaridades, sendo uma terra que demanda um bom conhecimento das nossas realidades, mas segue como um dos líderes para ótimas oportunidades e atração de investimentos.
O momento do nosso mercado de capitais, assim como as atuais taxas de juros, e a cotação do Real, abrem um leque de infinitas situações que tem atraído a atenção dos empreendedores.
Poucos países têm o nosso tamanho, a nossa população, os nossos recursos naturais e a mesma demanda por investimentos e infraestrutura, de maneira que o Brasil está sempre no radar.
A realidade atual é desafiadora. Diversas crises surgem quase que diariamente, mas já se vê um importante reforço para o mundo empresarial, onde mais e mais investidores e executivos estão percebendo, e, com base nele, organizando seus empreendimentos para que se tornem cada vez mais atrativos e rentáveis.
Felizmente, o conceito do ESG está crescendo rapidamente no Brasil, e tomando conta da agenda de investimentos e de projetos empresariais, focados em governança corporativa, meio ambiente, sustentabilidade, direitos humanos, aspectos sociais, utilização racional de recursos e resultados não apenas financeiros.
Essa mentalidade que ganha mais espaço e adeptos a cada dia, reflete o momento empresarial mundial de buscar um novo conceito de capitalismo que fomente o crescimento e o lucro, porém de maneira sustentável.
Investidores e executivos já perceberam que, de nada adianta picos de lucros num ou noutro quarter, se na sequência será consumido o que for ganho. E a duras penas muitas empresas estão aprendendo que a imagem, a credibilidade e o nome valem muito e precisam ser bem cuidados.
Definido por alguns como a evolução da governança corporativa, esse festejado acrônimo vem demonstrando que o movimento não é novo, mas que pandemia e seus efetivos demonstraram o esgotamento do modelo anterior, que em grande parte buscava o lucro puro e simples.
O planeta tem demonstrado o seu esgotamento e as empresas estão percebendo o seu papel e a urgência dos ajustes em seus modelos.
Seja por consciência ou por ideologia, seja pela pressão de investidores e dos mercados, ou ainda pela força dos consumidores ou pela pressão de bancos e financiadores de projetos, mais e mais empresas estão procurando adaptar suas filosofias e modelo de negócios aos novos tempos e demandas, incluindo na agenda de seus conselhos e diretorias a sustentabilidade dentro do que hoje se conhece como ESG ou ASG.
Sabemos que o mundo não vive uma crise global por falta de dinheiro, mas sim de incertezas, receios, instabilidade, medos e, de bons e sustentáveis projetos.
Nesse cenário, o Brasil tem todas as condições de atrair ainda mais investidores e investimentos, que percebam valor em apostar no nosso País. E muitos estão prontos para constituir ou comprar empresas por aqui, desde que com efetivo foco em sustentabilidade.
O ESG vem ensinando que a sustentabilidade agora pretendida não é apenas em uma outra área, e nem nesta ou naquela iniciativa, mas no todo, na empresa de forma geral. Precisa ser o cerne da agenda, para que a empresa seja mais forte, resistente e efetivamente lucrativa.
Do respeito aos funcionários, à diversidade, à inclusão efetiva, e aos direitos humanos, da preocupação com o consumidor, do cuidado com o meio ambiente ao longo de toda a cadeia de produção, da atenção às boas práticas de governança corporativa, do foco no lucro sustentável e que não sacrifica outros pilares e stakeholders, aos dados financeiros e o market share, mais e mais esses conceitos são agora a porta de entrada para joint ventures e projetos de mergers & aquisitions em geral.
Gradativamente as empresas e os investidores estão percebendo que muito mais do que um novo conceito ou de um modismo, esse modelo de capitalismo sustentável é o que o mundo precisa para controlar e reconstruir suas estruturas, devido ao esgotamento do modelo anterior.
Escritórios de advocacia especializados, consultorias e bancos de investimento têm recebido consultas e mandatos para atuar com esse foco, certamente mais adequado e moderno. E tem trabalhado para ajudar a criar bons projetos e para encontrá-los.
Se a oportunidade está aberta, torna-se necessário que executivos e empresários percebam também, que a estruturação de negócios sustentáveis demanda foco, disciplina, compromisso e cuidados, pois o conceito atual é realmente da sustentabilidade total.
O empresário sabe que a sua trajetória decorre de escolhas e que cada uma delas tem o seu preço e o seu prêmio.
O ESG chegou para ficar e já está modernizando o mercado de M&A, que cada vez mais procura projetos efetivamente sustentáveis.
O primeiro passo, urgente e fundamental, tem sido a conscientização de que ajustes, as vezes profundos e estruturais são necessários.
Já se preconiza que empresas e investimentos não sustentáveis estão com os dias contados. E que, nessa linha, quem não começar hoje, pode perder valor de maneira consistente e, ao longo do tempo, não apenas perder mercado, como fechar as portas.
Advogados de projetos e operações, assim como os focados em direito societário e governança corporativa, já estão apoiando seus clientes de diversas formas, seja participando de comitês emergenciais para criar um plano de ação, seja apoiando diretorias e conselhos como parceiros fomentadores do ESG em todas as atividades da empresa.
As principais bolsas de valores do planeta estão reorganizando seus índices e mercados, para que alguns segmentos já demonstrem o compromisso empresarial com a sustentabilidade e o ESG, assim como o consumidor está cada vez mais consciente e exigente demandando atitudes claras.
Em paralelo, várias empresas estão informando seus principais executivos que as metas, meramente financeiras, já não serão suficientes para os bônus e as promoções, pois a avaliação de desempenho será cada vez mais ampla.
Na mesma linha do compliance e da boa governança, o ESG não pode ser apenas no papel, precisando ser efetivo, real, e sentido no dia a dia e na prática.
Temos muito trabalho pela frente, e cada vez mais projetos de M&A focarão muito na importância do que está incluído nessas “três letrinhas”.
Um dos caminhos para o empresariado brasileiro pode estar nessa nova mentalidade, que engloba oportunidades e cuidados. Unamos forças!
Leonardo Barém Leite é sócio do escritório Almeida Advogados, especialista em Direito Empresarial, Societário, Fusões e Aquisições (M&A) e Mercado de Capitais.
*Imagem em destaque: Piqsels.com
Quer melhorar sua estratégia para investir? Converse com um especialista da Wise Investimentos.