O Banco Central (BC) tem que estar preparado para enfrentar críticas do governo em relação a sua política monetária e juros altos. A avaliação é do ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, em entrevista a Globo News. “É normal que o governante, principalmente no início do governo, ele reaja com visão de curto prazo. Ele não quer que o BC mantenha a taxa de juro atual. Quer baixar taxa de juro, gastar o máximo possível para que a economia possa crescer”, disse, considerando ser compreensível isso, mas os efeitos podem ser negativos.
Meirelles alerta que se o Banco Central baixar os juros artificialmente, com a inflação ainda em alta, seria “um desastre, com uma subida da inflação”. Para ele, apesar de ser normal essa pressão do governo, o BC está agindo corretamente em manter a sua postura. “Não há esse debate entre governo e Banco Central. O governo faz a sua política fiscal e o banco central faz sua análise técnica e coloca todos os fatores. Se as previsões apontam para inflação em alta, a instituição eleva os juros”, disse, acrescentando que o BC está cumprindo seu papel e não está envolvido em debates.
Meirelles lembrou do governo Lula 1, que manteve uma política fiscal austera e com muita responsabilidade. No segundo mandato, o presidente aliviou um “pouquinho do fiscal, mas em momento de crise em 2007 nos EUA e 2008 no Brasil, o que justifica um descuido fiscal”. O ex presidente do BC citou ainda uma terceira fase, com o governo Dilma Rousseff, que levou o país “para uma situação muito difícil”. Meirelles lembrou que quando assumiu o ministério da Fazenda, em 2016, o país estava enfrentando uma recessão muito grande.
“Aparentemente o Lula está seguindo aquilo que foi feito no governo Dilma, que os teóricos do governo dizem que naquela época não deu certo porque o governo da Dilma foi muito sabotado e que agora com o Lula vai dar certo, porque o Lula tem liderança”, apontou. “Eu acho pouco provável isso”.
Sobre a questão do BC, Meirelles reiterou que a solução é deixar a instituição em paz. “Agora o Banco Central é legalmente independente”.
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