A Agrogalaxy (AGXY3), grupo varejista de insumos agrícolas, entrou com pedido de recuperação judicial (RJ) em caráter de urgência na última quarta-feira (18), com um total de R$ 4,7 bilhões em dívidas. Hoje (20), o segredo de Justiça foi suspenso pela 19ª Vara Cível e Ambiental da Comarca de Goiânia.
Nos últimos três pregões, desde o anúncio da RJ, as ações da companhia derreteram na Bolsa de Valores brasileira. Os papéis negociados fora do Ibovespa caíram mais de 40%, se tornando uma penny stock (ações com valores em centavos). Nesta sexta, a AGXY3 cai 5,48%, valendo R$ 0,69, o menor preço desde a oferta pública inicial de ações (IPO), em 2021.
Cronologia de RJ da Agrogalaxy
A recuperação judicial da Agrogalaxy ocorreu na sequência da empresa ter comunicado a renúncia do diretor-presidente, Axel Jorge Labourt, e de cinco membros do conselho de administração. O então diretor financeiro da companhia, Eron Martins, foi nomeado para o cargo de CEO.
A empresa disse, em comunicado, que o pedido de recuperação judicial foi protocolado em caráter emergencial diante do vencimento antecipado de operações financeiras, visando proteger seus ativos e viabilizar a readequação de sua estrutura de capital diante dos desafios do agronegócio brasileiro. Considerando somente a dívida líquida, a empresa totalizava R$ 1,512 bilhão até junho.
Ontem (19), a AgroGalaxy obteve uma liminar concedida pela juíza Alessandra Gontijo do Amaral, da 19ª Vara Cível e Ambiental de Goiânia, que suspendeu as execuções de dívidas e rescisões contratuais decorrentes do pedido de recuperação judicial. A medida também impediu o vencimento antecipado de obrigações, proporcionando à empresa um período de alívio temporário de 45 dias para formular seu plano de recuperação e começar as negociações com os credores.
Com a suspensão do segredo de Justiça, a companhia disponibilizará todos os documentos solicitados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nos sites da própria empresa e da B3.
Reflexos nos Fiagros
Ontem, os Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros) com exposição à Agrogalaxy sofreram uma forte queda, principalmente os dois maiores Fiagros com participação no CRA (Certificados de recebíveis do agronegócio) da companhia, o XPCA11, da XP, e o JGPX11, da JGP.
O XPCA11 caiu 8,06%, com a maior queda do dia. O fundo possui cerca de 8,20% do patrimônio líquido atrelado a Agrogalaxy. Na sequência, o JGPX11 que possui 8% do patrimônio líquido do fundo, caiu 6,61%.
Maiores credores da Agrogalaxy
Entre os principais credores da empresa, destaca-se a Vert Companhia Securitizadora, que estruturou Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) para a AgroGalaxy, no valor de R$ 516,4 milhões. Devido à crise de liquidez da empresa, o vencimento antecipado desses CRAs foi acionado, agravando ainda mais sua situação financeira.
As maiores dívidas bancárias da companhia são com o Banco do Brasil, com R$ 391,2 milhões; Santander, com R$ 278,4 milhões; e Citibank, com R$ 106,8 milhões. Além disso, grandes fornecedores do setor agrícola, como a FMC, aparecem com R$ 163,6 milhões, seguidos pela Opea Securitizadora (R$ 148,8 milhões) e Albaugh Agro Brasil (R$ 139,4 milhões).
Os compromissos financeiros se estendem também a produtores rurais devido a acordos de precificação de grãos. A companhia relatou obrigações com seu controlador, o fundo Agrofundo Brasil X FIP, administrado pela Aqua Capital, que totalizam R$ 152,3 milhões.
Outros credores importantes no setor agrícola incluem a Mosaic Fertilizantes, com R$ 119,5 milhões; Rainbow Defensivos Agrícolas, com R$ 116,9 milhões; e Total Biotecnologia, com R$ 115,5 milhões.