Na última semana, o mercado brasileiro surpreendeu com altas inesperadas, mesmo sem notícias relevantes nos Estados Unidos ou no Brasil. E o motor por trás dessa valorização está do outro lado do mundo, na China.
Enquanto os investidores focavam nos Estados Unidos, à espera de novas pistas sobre as próximas decisões do Federal Reserve (Fed), banco central americano, os chineses, nossos maiores parceiros comerciais, anunciaram o maior pacote de estímulos econômicos desde a pandemia.
A medida fez a demanda por minério de ferro aumentar, impulsionando a Vale (VALE3), ação de maior peso no Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, que teve dois dos seus três melhores dias no ano.
No novo episódio do podcast Ligando os Pontos, Marcos de Vasconcellos, CEO do Monitor do Mercado, explica como as bolsas chinesas impactam o Brasil e por que é importante prestar atenção nas movimentações da economia asiática.
China serve como termômetro
O hábito de acompanhar o fechamento das bolsas asiáticas (que acontece antes da abertura da nossa), principalmente o índice Shanghai Composite, pode mostrar para os investidores algumas pistas de como será o desempenho do Ibovespa no dia.
No dia 24 de setembro, por exemplo, o Ibovespa subiu 1% após cinco sessões seguidas de queda. Quem já estava de olho no fechamento da China via o índice de Shanghai subir 4,15%. Outro exemplo ocorreu no dia 26, quando a bolsa brasileira subiu mais de 1%, impulsionada por um aumento de 3,6% no índice chinês.
Vasconcellos, no entanto, lembra que mudanças no mercado podem acontecer durante a sessão no Brasil e no mundo, como problemas com questões fiscais ou a divulgação de dados econômicos.
Estímulos chineses
As altas foram impulsionadas por um pacote de estímulos anunciado pelo governo chinês. O plano prevê a emissão de 2 trilhões de yuans (aproximadamente R$ 1,5 trilhão) em títulos soberanos, para injetar dinheiro na economia e atingir a meta de crescimento de 5% do PIB em 2024.
Entre as medidas, está a flexibilização para compra de imóveis, uma tentativa de reaquecer o setor imobiliário que foi duramente afetado pela crise da incorporadora Evergrande.
A recuperação da economia chinesa é importantíssima para o Brasil. No ano passado, as exportações brasileiras para a China somaram US$ 100 bilhões, em comparação aos US$ 30 bilhões para os Estados Unidos.
Grande parte dessas exportações está ligada ao minério de ferro, principal produto da Vale, empresa que responde por 12% do Ibovespa. Com a perspectiva de maior demanda por aço e construção civil na China, a Vale viu suas ações subirem 11% na última semana, impulsionando nossa Bolsa de Valores.